Por Miguel Ángel Hernández, dirigente do Partido Socialismo e Liberdade (PSL), secção da UIT-QI na Venezuela, e da UIT-QI
“Da economia de ocupação à economia de genocídio” é o título do relatório apresentado no dia 3 de julho por Francesca Albanese, relatora especial da ONU para os Territórios Palestinianos Ocupados. O relatório revela a cumplicidade criminosa no genocídio em Gaza por parte de numerosas empresas americanas, israelitas e outras.
Os Estados Unidos sancionam Francesca Albanese, autora do relatório
O documento teve um grande impacto nos meios de comunicação social e nas redes sociais. O governo de extrema-direita de Donald Trump, assim como o de Netanyahu, reagiram com particular virulência à sua publicação. Os Estados Unidos impuseram sanções a Francesca Albanese, a autora do relatório, acusando-a de fazer uma “campanha de guerra política e económica” contra os Estados Unidos e Israel.
Para o efeito, o Secretário de Estado, Marco Rubio, afirmou, através da sua conta na rede social X, que as medidas contra Albanese têm lugar “pelos seus esforços ilegítimos e vergonhosos para levar o Tribunal Penal Internacional a atuar contra funcionários, empresas e executivos dos EUA e de Israel”.
O grande capital financia o genocídio em Gaza
O nome do relatório faz alusão ao apoio económico de grandes empresas israelitas multinacionais e nacionais envolvidas no financiamento e sustentação material do genocídio de Israel em Gaza e em toda a Palestina. O relatório enumera mais de 60 empresas que apoiam o desenvolvimento de colonatos israelitas nos territórios ocupados e as ações militares em Gaza.
Entre as empresas contam-se as multinacionais americanas de telecomunicações IBM e Microsoft, responsáveis pela recolha e armazenamento de dados biométricos sobre os palestinianos e pela tecnologia utilizada nas prisões e nas operações de aplicação da lei, e a Amazon e a Google, que fornecem software de gestão de grandes bases de dados para o ‘controlo da população palestiniana’. Já a Palantir forneceu inteligência artificial utilizada para fins militares.
Outra empresa que apoia a agressão de Israel em Gaza, nomeadamente na área militar, é a norte-americana Lockheed Martin, que forneceu a Israel caças F-35, a qual se juntam mais outras 1600 empresas do sector militar. Também no sector educativo e académico, o Massachusetts Institute of Technology (MIT) e a japonesa FANUC Corporation têm colaborado no desenvolvimento de armas e tecnologias militares. O programa Horizon Europe da Comissão Europeia tem facilitado a colaboração com instituições israelitas em várias áreas.
No domínio do transporte de armas, o relatório menciona a grande multinacional marítima Maersk, e da mesma forma, empresas de maquinaria pesada, como a Caterpillar, a Hyundai e a Volvo, cujo equipamento foi utilizado para demolir edifícios, destruir avenidas e ruas, e abrir corredores de vigilância. Estas empresas também colaboraram, alegadamente, na destruição de terrenos agrícolas e na construção de colonatos ilegais nos territórios palestinianos. A empresa espanhola Construções e Auxiliar de Ferrovias (CAF – Construcciones y Auxiliar de Ferrocarriles) também colaborou com Israel neste domínio. É importante destacar ainda, no sector do turismo, a colaboração por parte do Booking e da Airbnb.
São também mencionadas as empresas do sector da energia, como a suíça Glencore e a americana Drummond, que contribuíram com carvão para o sistema elétrico de Israel, bem como as empresas petrolíferas BP e Chevron. No sector financeiro vemos empresas como BNP Paribas, Barclays, Allianz, Blackrock, e Vanguard, e no sector alimentar, as empresas israelitas Tnuva e Netafim, propriedade de multinacionais da China e do México respectivamente . A empresa israelita Mekorot também participa diretamente, e foi responsável, no âmbito do bloqueio brutal a que Israel submeteu os habitantes de Gaza durante vários meses, a redução em 22% do abastecimento de água a Gaza.
Relatório apela à responsabilização das empresas que colaboram com Israel
O relatório conclui que não se trata de empresas isoladas, mas de todo um sistema, que caracteriza como “a máquina empresarial que sustenta o projeto israelita” na Palestina.
De acordo com o relatório, esta rede empresarial, que lucra com o genocídio, tem plena consciência de que está a contribuir para a “manutenção da ocupação ilegal e dos crimes de apartheid e genocídio”. O documento acrescenta que “o sector empresarial contribuiu para a criação das condições para a limpeza étnica da Palestina”.
O documento deixa clara a máxima de que “o capital não tem pátria nem coração”. A única coisa que interessa aos capitalistas e às grandes empresas é o lucro, independentemente das consequências para os povos.
O documento do Relator Especial das Nações Unidas apela à “investigação e acusação de executivos e/ou entidades empresariais pelo seu envolvimento na prática de crimes internacionais e no branqueamento do produto desses crimes”. O documento apela ainda aos governos para que “imponham sanções e um embargo total de armas a Israel, incluindo todos os acordos existentes e artigos de dupla utilização, como tecnologia e maquinaria pesada civil”.
Albanese apela ainda a que se “suspendam ou impeçam todos os acordos comerciais e relações de investimento e se imponham sanções, incluindo o congelamento de bens, a entidades e indivíduos envolvidos em actividades que possam pôr em perigo os palestinianos” e a que se “assegure que as entidades empresariais sejam objeto de processos judiciais pelo seu envolvimento em violações graves do direito internacional”.
Continuar a impulsionar a mobilização global em apoio ao heróico povo palestiniano
Sabemos que a ONU é um organismo promovido e financiado pelo imperialismo, incapaz de condenar efetivamente Israel e de punir os empresários que colaboraram com o apartheid em toda a Palestina e com o genocídio em Gaza. No entanto, é importante reivindicar a relatora independente da ONU para os Territórios Palestinianos Ocupados, Francesca Albanese, que tem demonstrado um compromisso inabalável com o povo palestiniano, enfrentando o sionismo e a sua tentativa de executar uma nova limpeza étnica na Palestina. Albanese junta-se às inúmeras vozes que se levantam de diferentes quadrantes contra o genocídio israelita em Gaza e que põem em evidência o crescente isolamento de Israel.
Mas também estamos conscientes de que será a solidariedade internacional e a mobilização de todos os povos do mundo, juntamente com a heróica resistência palestiniana, que derrotarão o sionismo israelita e permitirão concretizar a palavra de ordem que prevalece em todas as mobilizações: “Libertar a Palestina, do rio até ao mar”.
A partir da Unidade Internacional dos Trabalhadores – Quarta Internacional (UIT-QI), continuamos a dar todo o nosso apoio ao heroico povo palestiniano, como parte do grande movimento mundial de solidariedade.
Exigimos um cessar-fogo imediato, a retirada de todas as tropas israelitas e o respeito pela integridade de Gaza como parte da Palestina; bem como a libertação imediata de todos os postos fronteiriços para garantir a entrada de alimentos, medicamentos, combustível e água, e o restabelecimento imediato da eletricidade. Exigimos a retirada imediata das forças israelitas dos Montes Golã e de outras zonas da Síria. Rejeitamos a detenção ilegal e a ameaça de deportação de activistas que defendem a liberdade da Palestina e de Gaza, como tem acontecido nos Estados Unidos, Alemanha, França, Argentina e outros países. Exigimos que todos os governos rompam relações políticas diplomáticas, comerciais, culturais e académicas com Israel, especialmente os regimes árabes e do Médio Oriente, que pouco têm feito pelo povo palestiniano. Por uma Palestina única, laica, democrática e não racista!