Outubro de 1917: Aprender e ousar 

7 de Novembro, 2025
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A Revolução Russa de Outubro de 1917 provou, antes de tudo, que Marx estava correto.

Marx e Engels, após múltiplos e profundos estudos, desvendaram a lógica intrínseca da história da humanidade. A evolução da sociedade acontece porque as classes sociais lutam entre si para assegurar a sua sobrevivência e o seu futuro. As massas exploradas, que são politicamente inativas na maior parte do tempo, em momentos mais agudos de crise agem para mudar as suas vidas. Só esta ação independente dos setores explorados e oprimidos pode escancarar as portas da mudança.

Outros, antes de Marx, já denunciavam o sistema capitalista como desigual e injusto e a necessidade de se construir uma sociedade diferente. Porém, Marx e Engels foram os primeiros a libertar o “socialismo” das amarras do idealismo e a transformá-lo num programa concreto de ação para superar o capitalismo — ou seja, passar das ideias à prática. “Os filósofos têm apenas interpretado o mundo de maneiras diferentes; a questão, porém, é transformá-lo.”

O Manifesto do Partido Comunista foi a síntese de um estudo profundo da sociedade. Esta elaboração foi essencialmente construída sob dois pilares: A Miséria da Filosofia, de Marx, e Princípios do Comunismo, de Engels. Foi um verdadeiro manual de instruções para construir uma nova sociedade livre da exploração burguesa. Pouco mais de duas décadas após a redação do Manifesto Comunista, os plebeus parisienses demonstraram, na prática, que era possível uma sociedade diferente. A tomada do poder pelos trabalhadores evidenciou que as propostas marxistas não eram utopias irrealizáveis. A experiência da Comuna de Paris foi fundamental para a educação do Partido Bolchevique.

A Revolução de Fevereiro foi o ensaio geral para, em Outubro, o Partido Bolchevique conduzir a classe trabalhadora na tomada do poder. As revoluções de Fevereiro e Outubro não se distinguem pela radicalidade ou determinação da classe trabalhadora; a diferença fundamental está na direção do processo revolucionário: em Fevereiro, a revolução foi dirigida pelos reformistas; em Outubro, pelos Bolcheviques. Uma coligação imperialista de vários países formou o Exército Branco, que lutou contra o recém-nascido Estado operário. Na guerra civil morreram entre 4 e 10 milhões de pessoas em quatro anos.Apesar de ter ganho a guerra, o Partido Bolchevique perdeu na batalha milhões de revolucionários experientes.

A entrada de novos elementos — muitos dos quais camponeses — no Partido Bolchevique, sem qualquer experiência nas lutas do proletariado, corroeu o partido. Muitos destes eram elementos arrivistas, que entraram para o partido na expectativa de obter privilégios pessoais, aproveitando o facto de o partido estar no poder. O partido sofreu uma alteração profunda na sua composição social, com a entrada de militantes totalmente alheios à tradição revolucionária. A moral proletária revolucionária foi sucumbindo, esmagada pela penetração da moral burguesa nas fileiras do bolchevismo.

A tomada do poder e a expropriação da burguesia na URSS conseguiram avanços extraordinários e inauditos: toda a população passou a ter acesso a trabalho, moradia digna, educação, saúde e cultura. O governo operário bolchevique conseguiu, em apenas sete anos, aquilo que o capitalismo, em mais de dois séculos, não conseguiu alcançar. O facto de a Revolução Russa ter sido a única insurreição vitoriosa — existiram insurreições operárias que foram derrotadas na Europa Central — deixou a URSS isolada e sitiada pelo imperialismo. Para Engels e Marx, era impossível uma sociedade socialista à escala nacional.

“Que a emancipação do trabalho não é nem um problema local nem um problema nacional, mas um problema social, abarcando todos os países em que a sociedade moderna existe e dependendo para a sua solução do concurso prático e teórico dos países mais avançados”

A fundação da III Internacional e o Stalinismo 

Lenin e Trotsky, seguindo os revolucionários alemães, mesmo após a tomada do poder, nunca duvidaram que o destino da URSS estava indissoluvelmente ligado à revolução mundial. Dedicaram todos os seus esforços à construção da III Internacional. A morte de Lenin facilitou o trabalho de Stalin e seus aliados na hora de enterrar definitivamente os princípios elementares do bolchevismo como corrente revolucionária internacional. 

De forma a garantir a manutenção dos privilégios que possuíam, fizeram um pacto de não agressão com o imperialismo. A ideologia do “socialismo num só país”, oposta pelo vértice à política da revolução permanente internacional, passou a ser a “teoria” oficial da URSS. Em 1943, após o “acordo de cavalheiros” entre Stalin e Churchill, a III Internacional foi dissolvida por Stalin. O stalinismo caluniou, perseguiu, prendeu e assassinou toda a oposição que existia no Partido Bolchevique. Foi o início do fim do poder soviético.

Reivindicamos a Revolução Russa e a tradição marxista. Por isso, recusamos liminarmente a ideia de continuidade entre Lenin e Stalin. O stalinismo destruiu as conquistas de Outubro e enlameou o nome do socialismo. Consideramos que a única forma de celebrar a Revolução Russa é construir uma Internacional Revolucionária; por isso, a TU compõe a Unidade Internacional de Trabalhadoras e Trabalhadores – Quarta Internacional.

Neste marco, chamamos à construção de uma alternativa verdadeiramente revolucionária, que retome a tradição soviética na defesa de um governo que seja dos trabalhadores e para os trabalhadores. Um partido de trabalhadores unidos para lutar contra o genocídio na Palestina e pelo rompimento de todas as relações com o Estado genocida de Israel.

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