Marcha para Gaza

Apoio à marcha mundial de 15 de junho para Gaza/Rafah

12 de Junho, 2025
8 mins leitura

Por UIT-QI

Após a repudiável detenção da ‘Flotilha da Liberdade‘ por Israel, liderada por Greta Thunberg, que tinha o justo objetivo de romper o bloqueio do sionismo assassino, uma caravana de veículos partiu da Tunísia em direção a Rafah, na fronteira com o Egito, para denunciar o bloqueio de Israel a Gaza.

A caravana ‘Al-Soumoud‘ (‘Perseverança‘) partiu de Tunes, Tunísia, para apelar ao fim do bloqueio israelita a Gaza, em coordenação com comboios internacionais de mais de 30 países. O objetivo é chegar no domingo, 15 de junho. A última etapa atravessa o território egípcio, cujo governo ainda não deu autorização. A UIT-QI deu o seu apoio a esta iniciativa em solidariedade com o povo palestiniano. Apelamos a ações unitárias em todo o mundo para apoiar e exigir ao governo egípcio que autorize a caravana.

Atualização: Na quarta-feira, dia 11 de junho, pelo menos 170 ativistas que se encontravam na cidade do Cairo para se juntarem à Marcha para Gaza foram deportados pelo governo egípcio e um número indeterminado encontra-se detido.

Reproduzimos a nota de Miguel Lamas, dirigente do Partido Socialismo e Liberdade (PSL), secção da UIT-QI na venezuela, e da UIT-QI, e que denuncia a fome e o genocídio de Israel e apela a que se acompanhe a ‘Marcha Global para Gaza’ no dia 15 de junho.

Travar a fome e o genocídio em Gaza

Há quase três meses que o governo de extrema-direita de Netanyahu aplica um bloqueio criminoso à Faixa de Gaza, impedindo a entrada de alimentos, água, medicamentos e combustível, e restringindo a eletricidade. O seu objetivo é matar o povo de Gaza à fome, a fim de expulsar a população do enclave e forçar a resistência palestiniana a render-se, completando assim a limpeza étnica que iniciou em 1947, e hoje apoiada por Trump.

A situação humanitária em Gaza é terrível. O perigo de fome está a aumentar. Os números são assustadores: 14.000 bebés correm o risco de morrer se não receberem os alimentos necessários nas próximas horas, de acordo com a ONU. Meio milhão de pessoas (20% da população) correm o risco de passar fome, de acordo com relatórios da ONU. A Organização Mundial de Saúde informou que 57 crianças morreram de subnutrição desde março, quando começou o bloqueio de Israel a Gaza.  Basta de fome e genocídio em Gaza!

Netanyahu e a limpeza étnica

Em março, o regime sionista de Israel quebrou as tréguas e retomou a campanha de bombardeamentos, no âmbito de uma nova ofensiva lançada a 18 de maio, denominada ‘Operação Carruagens de Gideão‘. O criminoso Netanyahu afirmou que esta nova ofensiva tinha como objetivo a tomada de território em Gaza e que não se iria retirar. Ele disse a uma comissão parlamentar sionista: “Estamos a destruir cada vez mais casas e eles não têm para onde voltar. O único resultado inevitável será o desejo dos habitantes de Gaza de emigrarem para fora da Faixa de Gaza“.

Numa declaração posterior, a 13 de maio, anunciando a nova operação militar, afirmou: “Criámos uma administração que lhes permitirá sair, mas o nosso problema é uma coisa – precisamos de países receptivos. É nisso que estamos a trabalhar neste momento. Se lhes derem luz verde, digo-vos que mais de 50% sairão, e penso que muito mais. Mas o Hamas desaparecerá“. O objetivo é claro: assumir o controlo total de Gaza, expulsar o povo palestiniano das suas terras e casas, e transformar a faixa num ‘resort’, como anunciou Trump.

A pressão mundial obriga Israel a autorizar a entrada de uma ajuda humanitária mínima

Depois de colocar o povo palestiniano em Gaza à beira da fome, Netanyahu foi forçado a permitir a entrada de uma pequena fração de ajuda humanitária. Entre segunda-feira, 19 de maio, e sexta-feira, 23 de maio, entraram cerca de 385 camiões de alimentos, medicamentos e outros bens. No entanto, mesmo depois de entrarem, muitos destes camiões demoraram até chegarem aos habitantes de Gaza. Estas quantidades continuam a ser insuficientes, sobretudo tendo em conta que, durante a trégua, entravam diariamente até 600 camiões de ajuda humanitária e que, atualmente, há centenas de camiões à espera na fronteira, sem poderem entrar.

Esta reviravolta do Governo israelita não foi feita por razões humanitárias. É uma decisão fria e calculada, determinada pela pressão de vários governos, como o próprio Netanyahu reconheceu cinicamente: “Os nossos melhores amigos no mundo, senadores que apoiam fervorosamente Israel, vieram ter comigo e disseram-me que dariam toda a assistência necessária para alcançar a vitória: armas, apoio para eliminar o Hamas e proteção no Conselho de Segurança da ONU. Mas há uma coisa que eles disseram que não podem apoiar: imagens de fome em massa. Portanto, para conseguirmos a vitória, temos de resolver esse problema“.

Com a brutalidade que lhe é caraterística, o ministro das Finanças de extrema-direita, Bezalel Smotrich, afirmou: “A ajuda que entrará em Gaza nos próximos dias é mínima. Permitirá que os civis comam, que os nossos amigos no mundo continuem a dar-nos proteção internacional contra o Conselho de Segurança e o Tribunal de Haia, e que continuemos a lutar, se Deus quiser, até à vitória“, sublinhando a importância de garantir “que o mundo não nos pare e nos acuse de crimes de guerra“. Continuou “Compreendo profundamente a raiva e a dor que todos sentimos. Na verdade, até ao regresso do último dos reféns, também não deveríamos deixar entrar água na Faixa de Gaza. Mas a realidade é que, se o fizermos, o mundo obrigar-nos-á a parar imediatamente a guerra e a perder. Seria ganhar a batalha e perder a guerra. Estou empenhado em ganhar a guerra“. Prosseguiu, a declarar que “Estamos a desmontar Gaza e a deixá-la como um monte de escombros, com uma destruição total [que não tem] precedentes a nível mundial. E o mundo não nos está a impedir. Há pressões. Há aqueles que nos atacam; estão a tentar [fazer-nos] parar; não estão a conseguir. Sabe porque é que não estão a conseguir? Porque estamos a navegar [na campanha] de forma responsável e sensata, e é assim que vamos continuar a fazê-lo“.

A pressão dos governos sobre Israel é determinada pela mobilização

As muitas vozes das organizações internacionais que denunciam a iminência de uma catástrofe humanitária deram um novo impulso às mobilizações em todo o mundo, especialmente na Europa. Este acontecimento coincidiu com o 77º aniversário da Nakba, quando milhares de pessoas se mobilizaram em todo o mundo contra os seus governos e em apoio à luta do povo palestiniano. Em Madrid, no dia 10 de maio, mais de 80.000 pessoas saíram à rua, exigindo o fim da venda de armas a Israel e o corte de relações, enquanto em Londres, no dia 17, cerca de meio milhão protestou. Na Haia, nos Países Baixos, 100.000 pessoas marcharam no dia 18, exigindo que o governo pusesse termo ao seu apoio a Israel.

A França, o Canadá e o Reino Unido, num comunicado emitido a 19 de maio, rejeitaram a nova ofensiva militar sionista, apelaram a um cessar-fogo e, hipocritamente, após meses de apoio a Israel, afirmaram que “o nível de sofrimento humano em Gaza é intolerável”. Nessa declaração conjunta, afirmaram que “Se Israel não puser termo à nova ofensiva militar e não levantar as restrições à ajuda humanitária, tomaremos novas medidas concretas em resposta”. Posteriormente, o governo britânico suspendeu as negociações com Israel sobre um acordo de comércio livre. Dezoito outros países exigiram o restabelecimento imediato e total da ajuda à Faixa de Gaza.

Os governos europeus, e outros governos capitalistas, não questionam Israel por um qualquer sentido de ‘humanidade’, mas devido à forte pressão que enfrentam dos movimentos e protestos de massas que estão a ocorrer, e que podem vir a gerar crises nos seus próprios regimes.

A crise política em Israel continua

Entretanto, em Israel, prosseguem os protestos, agora diários, exigindo o fim da guerra e o regresso dos reféns detidos pela resistência palestiniana. Estas mobilizações são o pano de fundo de uma crise política que não pára. Não é por acaso que o antigo primeiro-ministro Ehud Olmert afirmou numa entrevista, a 4 de abril, que Israel atravessava “a crise mais grave da sua história”. Depois, a 21 de maio, disse: “o que Israel está a fazer atualmente em Gaza está muito próximo de um crime de guerra”.

Quase em simultâneo com a declaração de Olmert, o militar reformado, deputado e líder dos Democratas, Yair Golan, fez uma declaração que causou agitação em Israel, afirmando que: “Um país são não faz guerra contra civis, não mata bebés por hobby e não estabelece objectivos que impliquem a expulsão de populações”. Acresentou que “Israel está a caminho de se tornar um Estado pária entre as nações – como a África do Sul de outrora (durante o Apartheid) – se não voltar a comportar-se como um país são“.

Olmert, Golan e outros líderes críticos do governo de Netanyahu são tão sionistas e anti-palestinianos como Netanyahu. No entanto, a mobilização global contra o genocídio e as contínuas marchas e expressões de rejeição ao governo em Israel estão a causar uma grande crise política no sionismo, manifestando diferenças e contradições políticas. Golan, Olmert, Benny Gantz, entre outros, estão entre os que defendem a fracassada solução dos dois Estados, e diferem de Netanyahu e dos seus ministros de extrema-direita apenas no ritmo e nos métodos utilizados para enfrentar a resistência palestiniana.

Aprofundar a mobilização global em apoio à resistência palestiniana

A partir da UIT-QI afirmamos que, para derrotar a tentativa de limpeza étnica e de ocupação de Gaza, temos de continuar a mobilizar-nos em todo o mundo para apoiar o povo palestiniano e a sua resistência.

Para o dia 15 de junho, organizações de mais de 20 países estão a planear e a promover  a ‘Marcha para Gaza‘. Marcharão até à fronteira entre o Egito e Gaza, no posto de Rafah, para exigir o fim do cerco e a abertura da fronteira à livre entrada de ajuda humanitária. No âmbito desta solidariedade internacional, a ‘Flotilha da Liberdade‘, encabeçada por Greta Thunberg, Thiago Ávila e pela deputada europeia Rima Hassan, partiu do porto de Catânia (Sicília, Itália) para Gaza, transportando ajuda humanitária e apelando a Israel para que abrisse caminho.

A UIT-QI junta-se ao apelo para esta mobilização, bem como para acções unidas de apoio em todo o mundo, no mesmo dia. Neste sentido, apoiamos a abertura imediata dos postos fronteiriços, para garantir a entrada de alimentos, medicamentos, combustível e água, e o restabelecimento da eletricidade.

A partir da UIT-QI exigimos que o governo egípcio, que até agora nada disse nem fez, apesar da solidariedade popular no país com a Palestina e a causa palestiniana, autorize a marcha do Egito para Gaza. Que todos os governos do mundo, especialmente os regimes árabes e do Médio Oriente, que fazem muito pouco pelos palestinianos, rompam os laços políticos, diplomáticos, comerciais, culturais e académicos com Israel. E, no caso dos governos árabes em particular, que apoiem a resistência palestiniana em Gaza e na Cisjordânia com armas e recursos.

Defendemos um cessar-fogo imediato e a retirada de todas as tropas israelitas de Gaza, da Cisjordânia, da Síria e do Líbano. Rejeitamos a limpeza étnica promovida por Trump e Netanyahu, bem como o bombardeamento do Iémen pelos EUA e Israel. Rejeitamos o plano de Israel e de Trump de militarizar e privatizar a prestação de ajuda humanitária. Condenamos a detenção ilegal e a ameaça de deportação de activistas que defendem a liberdade dos palestinianos, como acontece nos EUA e na Alemanha, e exigimos o corte de relações políticas, diplomáticas, comerciais, culturais e académicas com Israel. Por uma Palestina única, laica, democrática e não racista – Palestina Livre do rio ao mar!

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