Sabemos que os governos e as instituições europeias continuam a fornecer armas, financiamento e apoio político ao Estado de Israel; agora, a UER, ao permitir a sua participação na Eurovisão, não só se torna cúmplice do branqueamento do genocídio como contribui para o branqueamento do regime de apartheid israelita.
Escreve Cris Darriba, militante da Luta Internacionalista, secção da UIT – QI (Unidade Internacional das Trabalhadoras e Trabalhadores – Quarta Internacional) no Estado Espanhol.
Há anos que a Campanha Palestiniana para o Boicote Académico e Cultural a Israel (Palestinian Campaign for the Academic and Cultural Boycott of Israel – PACBI), no quadro do movimento BDS, exige a suspensão da participação do Estado de Israel no Festival Eurovisão da Canção, denunciando a cumplicidade do concurso – e dos Estados que nele participam – com o Estado sionista, ao encobrir a política de apartheid e limpeza étnica que perpetua contra toda a população palestiniana. Este ano, organizações como a ‘Queers in Palestine’ e o Sindicato dos Jornalistas Palestinianos, bem como dezenas de artistas da Suécia, Islândia e Finlândia, juntaram-se a esta exigência, apoiando a denúncia que a África do Sul apresentou contra Israel pelo genocídio que está a cometer na Faixa de Gaza, que desde 7 de outubro já deixou mais de 33 mil pessoas assassinadas e quase 2 milhões de deslocados.
No entanto, a União Europeia de Radiodifusão (UER) decidiu manter o Estado de Israel na competição, alegando que se trata de um evento “apolítico”. Ignorar este pedido mostra mais uma vez a duplicidade de critérios das instituições internacionais, que em 2022 não hesitaram em expulsar a Rússia do concurso após a invasão da Ucrânia, mas que hoje colocam os interesses imperialistas à frente dos direitos humanos, permitindo a participação de um Estado genocida que há quase 76 anos assassina o povo palestiniano e o expulsa da sua terra.
Desde que adotou a estratégia “Brand Israel” em 2005, o Estado de Israel tem instrumentalizado os direitos LGBT. Utiliza os nossos símbolos e a nossa luta na sua campanha de propaganda para justificar, com um discurso racista e desumanizador, a ocupação colonial da Palestina, o apartheid e o genocídio. Israel apresenta-se como um oásis LGBT na região, como a única democracia no Médio Oriente, enquanto aponta os palestinianos e os restantes países árabes como sociedades atrasadas, sexistas e LGBTfóbicas. Assim, a Eurovisão – que há décadas atrai o interesse e o apoio da comunidade LGBT – é o palco perfeito para a sua propaganda.
Sabemos que os governos e as instituições europeias continuam a fornecer armas, financiamento e apoio político ao Estado de Israel; agora, a UER, ao permitir a sua participação na Eurovisão, não só se torna cúmplice do branqueamento do genocídio como contribui para o branqueamento do regime de apartheid israelita.
Nos últimos meses, temos visto soldados israelitas a agitar a bandeira do arco-íris sobre as ruínas de casas palestinianas bombardeadas. Afirmam levar a libertação sexual e de género a Gaza, mas negam a existência de pessoas queer palestinianas e massacram um povo inteiro sob a bandeira da liberdade. A nossa identidade e a nossa luta não podem ser usadas para justificar o genocídio; não há libertação sexual e de género na ocupação e no colonialismo.
É por isso que a ‘Lucha Internacionalista’ participa nas campanhas promovidas pela PACBI e pelas organizações LGBT que apelam à ação para organizar um boicote ativo à Eurovisão. Fazemos eco do manifesto da ‘Queers Coalition for Palestine’ – uma plataforma internacionalista de organizações LGBT – que conclui: “Como colectivos queer na Palestina e em todo o mundo, recusamo-nos a permitir que o regime colonialista de apartheid de Israel instrumentalize as nossas identidades. O nosso orgulho reside nas nossas lutas colectivas pelo fim da colonização, da ocupação e do genocídio em todo o lado. O nosso orgulho reside no movimento pela libertação de todos nós. Do rio ao mar, a Palestina vencerá!”