Delegação da UIT-QI na Síria

25 de Agosto, 2025
3 mins leitura

Por correspondente da UIT-QI na Síria

Uma delegação da UIT-QI (Unidade Internacional de Trabalhadoras e Trabalhadores – Quarta Internacional) realizou uma ampla visita de quase duas semanas à Síria em julho. A delegação, que percorreu várias províncias do país, realizou encontros com revolucionários, ativistas políticos e intelectuais, e levou a cabo reuniões muito frutíferas para desenvolver colaborações políticas e atividades conjuntas, tanto na Síria como a nível regional.

A UIT-QI sempre esteve do lado das revoluções do Norte de África e do Médio Oriente, apoiando as rebeliões dos povos contra os regimes ditatoriais. Neste contexto, ao contrário das correntes socialistas reformistas que apoiaram o regime burguês e ditatorial de Bashar al-Assad, ou outras que permaneceram neutras, também apoiamos a luta do povo sírio contra o ditador Assad. Fizemo-lo a partir de uma posição independente, sem dar apoio político às direções rebeldes burguesas islâmicas ou laicas, na perspectiva de alcançar um governo dos trabalhadores e uma Síria socialista.

Consequentemente, a UIT-QI liderou ou participou em numerosas campanhas internacionais de solidariedade. Após a derrubada do regime de Assad, a UIT-QI continua a ser um dos mais firmes apoios à luta que o povo sírio agora trava contra o novo governo de Shara, em defesa das reivindicações de liberdade e dignidade que defendeu desde o início. A seguir, apresentamos as observações dos nossos camaradas durante a viagem.

De Aleppo a Damasco, pelos caminhos de uma Síria sem Assad

Chegámos ao aeroporto de Aleppo, recentemente reaberto ao público. Depois de abraçarmos as nossas camaradas que nos esperavam lá, visitámos, com a sua guia, o antigo centro devastado de Aleppo e a sua cidadela. Embora tivéssemos acompanhado de perto como os bombardeamentos dos aviões russos e os barris explosivos lançados pelos helicópteros do regime de Assad destruíram Aleppo, ver pela primeira vez com os nossos próprios olhos aquela destruição foi igualmente assustador. À tristeza do momento somava-se o justo orgulho de ter estado sempre ao lado do povo que lutava contra uma das ditaduras mais cruéis da história mundial, bem como a indignação perante grande parte da esquerda que, com diversas desculpas, se posicionou ao lado deste regime assassino.

Após as reuniões com os camaradas e amigos em Aleppo e Manbij, chegámos a Homs, conhecida como a ‘capital da revolução’. Embora o nível de destruição em Homs fosse comparável ao de Aleppo, encontrámos uma cidade mais viva e dinamicamente política. Após as reuniões lá, visitámos também Salamiyah, Masyaf e Al-Qadmus, cidades onde o movimento de esquerda sempre foi forte, juntamente com Homs. Em todas essas cidades, ouvimos as imensas experiências acumuladas desde 2011, debatemos sobre a situação política atual e as perspectivas para o futuro.

De Latakia a Damasco e a busca por construir uma alternativa socialista revolucionária

Depois, seguimos para a região costeira. Em Latakia, reunimo-nos com socialistas veteranos e jovens ativistas. Estes últimos eram camaradas que tinham visto e sofrido a opressão do regime de Assad, tinham lutado contra ele, tinham sido presos e que hoje tentavam impulsionar a luta política contra o novo governo, participando também em campanhas de solidariedade. O massacre perpetrado em março por milícias pró-governo contra aldeias alauítas continuava a ser o tema central na região. Diante da farsa da investigação do governo, as principais reivindicações dos ativistas continuavam a ser que todos os responsáveis pelo massacre fossem julgados e punidos e que as pessoas sequestradas fossem libertadas.

Depois de Latakia, seguimos para a capital, Damasco. Ao nos aproximarmos, tivemos sentimentos semelhantes aos que experimentamos ao ir de Aleppo a Hama. Assim como lá, nos arredores de Damasco, de Douma até o terminal de autocarros da capital, testemunhamos a imensa destruição causada pelos bombardeios aéreos. No entanto, ao chegar ao centro de Damasco, enquanto capital política, tivemos a oportunidade de manter debates animados com numerosos revolucionários e ativistas de diferentes tendências. O último destino planeado da nossa viagem era Suwayda mas a visita foi impedida, primeiro com o encerramento das estradas, e depois com o início dos confrontos e a intervenção sangrenta do governo. Diante dos massacres perpetrados pelas forças pró-governo, que lembravam os massacres de março na costa, a partir desse momento participamos como militantes da UIT-QI, tanto política quanto materialmente, em atividades de solidariedade com o povo de Suwayda.

Apesar do desgaste e da devastação deixados por 14 anos de revolução e guerra civil, a energia e a curiosidade dos jovens ativistas, bem como a tenacidade e a lucidez dos revolucionários experientes, transmitiram-nos grande esperança e otimismo. Após 54 anos de uma ditadura sangrenta, as prisões cheias de presos políticos esvaziaram-se. Pela primeira vez, as pessoas podem debater abertamente sobre política e organizar reuniões políticas. Ao mesmo tempo, especialmente em Damasco e noutros locais onde a esquerda tem sido historicamente forte, é possível desenvolver atividades políticas e outras organizações sociais ou pelo julgamento e punição dos crimes da ditadura. Tudo isto abre a possibilidade de dar passos na construção de uma organização socialista revolucionária.

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