Este 1.º de Maio Mostrou o que Falta:Unir as Lutas, Quebrar o Isolamento

7 de Maio, 2025
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O 1.º de maio, dia internacional de unidade, luta e solidariedade da classe trabalhadora, celebrou-se este ano mais uma vez à sombra da passividade das grandes centrais sindicais, mas num momento crítico para nós, trabalhadores.

De acordo com o relatório “Análise da Pobreza, Privação e Desigualdades em Portugal: Tendências Recentes num País Persistentemente Desigual”, publicado pelo Observatório das Desigualdades, 42% da população portuguesa estava em risco de empobrecimento em 2022 (sem assistência social). Esta taxa aumentou indubitavelmente devido ao aumento das rendas e porque os salários não estão protegidos contra a inflação. Os jovens trabalhadores e as mulheres são os que mais sentem os efeitos do empobrecimento.

Mesmo após a atribuição de apoio social, atualmente, pelo menos 1 em cada 10 trabalhadores e 1 em cada 2 desempregados são pobres. Enquanto as nossas rendas aumentaram 205,8% entre 2015 e 2023, os nossos salários aumentaram apenas 35% no mesmo período. Atualmente, pelo menos 1 em cada 4 inquilinos têm de pagar 40% do seu salário para pagar a renda e as contas. 38,9% de nós não ganham o suficiente para tirar uma semana de férias fora de casa. 30,5% de nós não consegue pagar uma despesa inesperada sem recorrer a um empréstimo.

Este quadro vem juntar-se ao das condições laborais na maioria dos locais de trabalho, que não são determinadas por acordos coletivos de trabalho. A esmagadora maioria de nós não está sindicalizada. Os empregadores fazem tudo o que podem para desvalorizar os nossos salários. Enquanto a carga de trabalho e o custo de vida aumentam, os salários continuam baixos e o poder de compra diminui.

O descontentamento dos trabalhadores existe, mas os sindicatos tradicionais não estão à altura

Apesar do clima aparente de paz social, há muitas lutas a ocorrer no país. Os trabalhadores do Metropolitano de Lisboa exigem aumentos salariais, os trabalhadores das Águas do Vimeiro estiveram em greve no dia 24 de abril contra os ataques da nova administração e, no dia 16 de abril, os trabalhadores da Teijin Automotive Technologies, em Matosinhos e Palmela, estiveram em greve por um salário digno. 

Estes exemplos poderiam multiplicar-se e amplificar-se até se obterem as reivindicações dos trabalhadores, pois o custo de vida, especialmente o da habitação, combinado com a estagnação dos salários, empurra cada vez mais os trabalhadores para a única saída: a luta. Por isso, milhares de trabalhadores da Airbus Atlantic, da Sociedade Central de Cervejas, da EMAC, da Founder, da Concentrix e de centenas de outros locais de trabalho fizeram greve este ano e lutaram por melhores acordos coletivos de trabalho, salários mais altos e dignidade. Orgulhamo-nos de todos estes irmãos de classe.

No entanto, apesar dos grandes sacrifícios que os trabalhadores fazem para poderem realizar estas greves, as lutas podem ficar muitas vezes isoladas nos locais de trabalho e nas localidades. Este é um fator que enfraquece a classe trabalhadora. Por conseguinte, gostaríamos de salientar a importância de estabelecer coordenações sindicais entre as várias lutas, de modo a unir esforços. O isolamento que grande parte das lutas sofre tem responsáveis: as grandes centrais sindicais que dominam a maior parte dos sindicatos no país e que funcionam como barreira para situações de explosividade social, garantindo, em última instância, o regime. 

Se da UGT nada esperamos além de acordos benéficos para os patrões e aprovados pelo governo, da CGTP exigimos mais do que greves e manifestações esporádicas. Apesar de termos tido vários setores do Estado em luta nos últimos anos, não tivemos nem uma greve geral nem lutas unificadas na função pública ou na saúde, quando todos os setores profissionais faziam lutas isoladas, por vezes com as mesmas reivindicações. Exigimos um plano nacional de emergência de luta que responda aos ataques anti-laborais dos patrões e do Governo e que aumente os salários e reduza as horas de trabalho com a semana de trabalho de quatro dias sem redução de salário.

É preciso construir um sindicalismo independente, combativo e democrático

Este ano, o governo e os patrões preparavam-se para atacar os nossos direitos laborais, de sindicalização e de greve, uma ofensiva que vai retornar depois das eleições, ganhe quem ganhe, a música é a mesma, só muda o ritmo. Os governos, desde os do Partido Socialista até aos do Partido Social Democrata, trabalham a favor da classe patronal. Estes governos reduzem o orçamento destinado à saúde e à educação públicas e transferem os recursos criados pelos impostos dos trabalhadores para os patrões, agora também através do rearmamento europeu. O seu objetivo é privar-nos de toda a segurança social e laboral, impondo modelos de trabalho precários. Com estas políticas anti-trabalho, os ricos ficam mais ricos e os pobres mais pobres. 

As práticas antidemocráticas dos governos e os seus ataques de empobrecimento alimentam-se da mesma fonte. O governo que nos empobrece declara os imigrantes como bodes expiatórios para desviar a atenção de si próprio. No entanto, a fonte da nossa pobreza é o próprio sistema social que privilegia o enriquecimento dos patrões, sendo os trabalhadores imigrantes, que são explorados por esses mesmos patrões, nossos irmãos de classe.

Perante este quadro, os trabalhadores precisam dos seus próprios instrumentos de luta. Um desses meios são os sindicatos. No entanto, uma parte significativa dos nossos sindicatos está ocupada por uma burocracia laboral conservadora e colaborante. Esta burocracia mantém as negociações à porta fechada, adapta-se às exigências dos patrões, ergue barreiras sectárias contra a unidade do movimento laboral e impede a mobilização dos trabalhadores. No entanto, é um facto que os sindicatos não pertencem aos burocratas, mas sim a nós, trabalhadores.

Como trabalhadores que querem construir o Trabalhadores Unidos, vemos o nosso partido como um meio de luta dos trabalhadores. Por conseguinte, pretendemos unir as mobilizações atuais da nossa classe e criar uma alternativa social que produza uma solução duradoura e fiável para os nossos problemas. Como trabalhadores que lutam sob a bandeira da TU, apelamos a todos os nossos companheiros trabalhadores para que reforcem o nosso partido, democratizem, ampliem e unifiquem as lutas onde estejam.

Que os princípios da democracia dos trabalhadores sejam implementados nos nossos sindicatos!

Estamos fartos de sindicatos adaptativos e burocráticos.

Pelo fortalecimento dos sindicatos combativos, independentes e democráticos!

Pela realização de uma nova greve geral!

Por um plano nacional de luta que responda aos ataques anti-laborais dos patrões e do governo, bem como à carestia de vida.

Semana de trabalho de quatro dias, com oito horas por dia, sem perda de remuneração.

Aumento geral dos salários.

Controlo dos preços das rendas e da cesta básica.

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