Os planos de cortes que os governos, diante da atual crise capitalista, impõem à classe trabalhadora prejudicam especialmente as mulheres e as dissidências dos setores populares. A combinação entre o patriarcado e o capitalismo para superexplorar as pessoas mais oprimidas da sociedade significa que as mulheres e as dissidências são os setores que mais sofrem com a precariedade no mercado de trabalho, têm os empregos mais mal pagos e são demitidos primeiro. Cortar verbas para serviços sociais, saúde e educação é uma forma de violência de género, que aumenta o fardo do trabalho reprodutivo não remunerado. Tal violência económica aumenta principalmente entre as pessoas imigrantes e vítimas de racismo, que enfrentam níveis mais elevados de discriminação. Neste 08 de março, saímos às ruas para gritar bem alto: que não sejam as trabalhadoras a pagar a crise capitalista!
Pronunciamo-nos contra o genocídio do povo palestiniano em Gaza e o aprofundamento da limpeza étnica na Cisjordânia, levados a cabo pelo Estado de Israel com o apoio e a cumplicidade dos imperialismos americano e europeu. Em quatro meses, o sionismo massacrou aproximadamente 30 mil pessoas, a maioria delas mulheres, meninas, meninos e idosos. Denunciamos os crimes de guerra, os bombardeios sistemáticos da população civil e a falta de ajuda humanitária. Estamos solidárias com o povo palestino e a sua heróica resistência, que hoje luta pela vida face à escassez de medicamentos, alimentos e água potável. Neste 08 de Março, saímos às ruas para exigir o cessar-fogo: que os governos rompam relações políticas, diplomáticas, económicas e militares com o Estado de Israel! A causa do povo palestino é uma causa feminista!
Nos últimos anos, os movimentos de mulheres e das dissidências têm enfrentado diferentes governos, de todos os signos políticos, no quadro da quarta onda de lutas feministas, através de greves e mobilizações de rua. E, apesar desses governos, obteve importantes vitórias com a luta. Por isso, os novos fenómenos políticos de extrema-direita encarnam a reação patriarcal e religiosa e atacam as nossas conquistas com especial virulência. Um caso emblemático é o do governo de Javier Milei, na Argentina, que se posicionou contra o reconhecimento social da violência de género, conquistado com as lutas do “Ni Una Menos”; contra o direito ao aborto, resultado da mobilização nas ruas da “Marea Verde”; e contra a visibilidade da comunidade LGBTQ+, com todas as suas reivindicações. Segue os passos do misógino e ultra-reacionário Donald Trump, com os seus ataques ao direito ao aborto, conquistado nos Estados Unidos através da mobilização na década de 70. Neste ano, serão realizadas eleições em vários países e estão a ser apresentadas candidaturas que defendem governos do mesmo tipo. Neste 08 de março, saímos às ruas para derrotar os ataques às nossas conquistas: não passarão por cima dos nossos direitos!
Por outro lado, os governos que se dizem populares ou de centro-esquerda também não conseguiram melhorar as condições de vida das mulheres e das dissidências, para lá do seu duplo discurso. Com as suas políticas de austeridade e de endividamento externo, não respondem às exigências mais urgentes do movimento feminista. No Chile, por exemplo, Gabriel Boric, que se autodenomina o primeiro governo feminista da América Latina, não conseguiu resolver a disparidade nas pensões entre mulheres e homens, que ultrapassa 40%. No Brasil, o número de feminicídios é alarmante: quatro mulheres são assassinadas por dia, segundo estatísticas da CEPAL. Na Venezuela, a desigualdade nas tarefas domésticas continua a aumentar: 54% das famílias são sustentadas apenas por mulheres. E nos países em que o direito ao aborto foi conquistado há anos, aumentam os obstáculos ao acesso a esse direito de forma livre, gratuita e universal, como é o caso do Estado espanhol e de Portugal. Neste 08 de março, saímos às ruas para lutar por mais verbas para combater a violência de género e não para pagar a dívida externa.
Celebramos as operárias de Nova Iorque que, no início do século XX, lutaram contra a jornada de trabalho de doze horas, dando origem ao 08 de Março como Dia Internacional de Luta pelos Direitos das Mulheres Trabalhadoras. E, na atualidade, impulsionamos todas as lutas para que tenham sucesso. Mas alertamos que, neste momento de profunda crise capitalista, nenhuma conquista, por mínima que seja, estará garantida a longo prazo, se não acabarmos com o sistema capitalista, que sobrevive à custa da degeneração da humanidade e, antes de mais nada, da degradação da maioria dos/as despossuídos/as, da destruição do planeta e da opressão das mulheres e das dissidências. Nós, da Unidade Internacional de Trabalhadoras e Trabalhadores – Quarta Internacional (UIT-QI), reivindicamos o feminismo socialista e procuramos unir a luta anti-patriarcal com a luta anticapitalista, rumo ao triunfo do socialismo em todo o mundo para, dessa forma, acabar com todos os tipos de exploração e de opressão. Esta tarefa só pode ser realizada por governos da classe trabalhadora e dos setores populares.