Julho de 2023 voltou a ser o mês mais quente da história. As águas do mar continuam a aquecer a cada ano que passa, há cada vez mais eventos catastróficos, fogos cada vez maiores, secas, ondas de calor e de frio. Este ano tem sido mais um terrível exemplo da crise climática que atravessamos.
Ao longo dos anos, vários governos têm prometido responder à crise, juntam-se em cimeiras e assinam acordos, mas tudo não passou de manobras de publicidade. Mesmo seguindo os compromissos prévios já aceites – o que não está sequer a acontecer – seria impossível manter uma subida da temperatura média abaixo dos 2ºC, muito menos os 1.5ºC como era objetivo.
Mas não desesperemos, as Nações Unidas reuniram as tropas para a cimeira do clima e vão resolver estes e outros desastres ambientais! Se soa familiar, é natural. Estamos na 28º cimeira e ainda nada mudou. O acordo de Paris continua cada vez mais longe de ser cumprido, continuamos a aumentar a concentração de dióxido de carbono ano após ano, continuamos com planos ruinosos para o clima e os interesses económicos continuam a falar mais alto. A COP tornou-se o cúmulo do GreenWashing, e já nem o estão a tentar esconder.
Organizar uma cimeira das Nações Unidas no Dubai devia ser o primeiro sinal da falta de noção destes supostos líderes. Em primeiro lugar, escolheram um Estado que sobrevive à custa da exploração do petróleo, e depois, desde o escândalo do mundial de futebol, com centenas de trabalhadores mortos a construir estádios, nada mudou no país, continua a mesma vergonha em relação aos direitos humanos, das mulheres e dos trabalhadores.
Portanto, uma cimeira para o bem do planeta ser realizada neste espaço é, no mínimo, um mau presságio. Por outro lado, como sabemos, este é o sítio ideal para os grandes lobbies das petrolíferas conseguirem intrometer-se nas negociações – mantendo a sua influência para garantir que os seus lucros não estão ameaçados – enquanto que os países do “norte global” podem fingir ter as mãos limpas. E embora este ano, estes grupos tenham de estar, pela primeira vez, devidamente identificados, esta mudança acaba por ser insignificante sendo que muitos líderes e antigos personagens ligados à indústria petrolífera continuam colocados em posições de imenso poder. Para começar, os Emirados Arabes Unidos decidiram escolher para presidente da COP28 o seu ministro da Indústria, o Sultão Ahmed Al Jaber, que acumula funções como presidente da petrolífera estatal Abu Dhabi National Oil Company (ADNOC). Embora seja também presidente da empresa estatal de energias renováveis, Ahmed já deu provas dos seus laços com o petróleo, lançando dúvidas completamente absurdas e anti-científicas sobre o quão eficaz será diminuir o uso dos combustíveis fósseis, chegando a dizer mesmo que não há ciência para apoiar a exigência do fim dos combustíveis fósseis como um meio necessário para limitar os efeitos da crise climática.
Portanto, recapitulando, as Nações Unidas reuniram quase 200 países pela 28º vez. Organizada no Dubai, um dos maiores exportadores de petróleo, com um presidente que descredibiliza a ciência, com um exército de lobbies á porta para manter os combustíveis fósseis, a COP pretende assinar um acordo que não será cumprido, mas promete combater a maior crise que estamos a enfrentar e que piora todas as outras crises que se sobrepõem. Esta é mais uma prova de como o sistema capitalista não vai nunca conseguir chegar a uma solução para esta crise. Todas as soluções são meramente para garantir que quem está no poder se mantenha instalado confortavelmente e para evitar sofrer perdas de lucros. Se queremos garantir que existe uma transição ecológica precisamos de um movimento democrático dos trabalhadores e da população para garantir o controlo dos setores mais estratégicos. Precisamos de um setor energético público e de uma boa rede de transportes para garantir que conseguimos viver de forma sustentável, justa e confortável.