Nesta quarta-feira, 15 de novembro, a Polícia entrou, a mando do Reitor Luís Manuel dos Anjos Ferreira, na Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa (FPUL), para deter três estudantes, que foram algemadas e levadas à força por dezenas de polícias, numa ação completamente arbitrária e repressiva, enquanto davam uma palestra sobre ação climática. Já na terça-feira (14/11), seis outras ativistas tinham sido detidas durante a ocupação da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH) da Universidade Nova de Lisboa. Só no último ano, já se contam 30 detenções de ativistas climáticos no país.
Trata-se de um grave ataque à auto-organização dos estudantes e à autonomia universitária, numa clara tentativa de intimidar os lutadores e de reprimir o pensamento livre, além de ser um recado claro da reitoria de que não há espaço para o debate político na universidade. Mas tem de haver! É direito e tarefa dos estudantes protestarem, levantarem-se e expressarem-se. A lógica cruel que produz desastres climáticos e destrói a natureza, em busca do lucro incessante dos capitalistas, é a mesma que quer colocar a universidade ao serviço dos interesses do mercado, precarizando o ensino e a investigação, abrindo a universidade à privatização e terceirização, aprofundando o desmantelamento iniciado pelo Processo de Bolonha.
Se as Associações Académicas estivessem realmente ao serviço dos estudantes e das suas lutas, a indignação diante da brutalidade da repressão aos ativistas poderia transformar-se numa força para combater o autoritarismo das reitorias e questionar o modelo de gestão da universidade, resistir aos ataques à educação e lutar por um ensino verdadeiramente público, gratuito, acessível e com garantias de permanência aos jovens trabalhadores e imigrantes. Em vez disso, a maioria das Associações Académicas continua a fazer o jogo da reitoria e do governo.
Precisamos de resgatar os exemplos históricos que a juventude portuguesa nos deixou e a tradição de um movimento estudantil com grandes objetivos, protagonista na luta pelas liberdades públicas e contra a ditadura, como a contestação à proibição do Dia do Estudante, celebrado a 24 de Março. Um exemplo de luta que se amplificou e assumiu novas formas e conteúdos, com manifestações, greves às aulas, confrontos com a polícia, ocupações, métodos bastante radicalizados e um forte caráter de enfrentamento ao regime ditatorial.
Façamos como os estudantes que entraram em cena durante a ditadura e combatamos a presença das polícias nas universidades. As forças repressivas atuam como um braço armado dos governos e das reitorias para determinar o caráter de classe da universidade e reprimir os jovens que lutam contra os efeitos da crise capitalista, como ficou evidente no episódio repressivo desta quarta-feira na FPUL.
Por isso, no MAS, defendemos que as Associações Académicas sejam recuperadas como ferramentas de organização para defender os interesses dos estudantes e transformadas em organismos verdadeiramente militantes, capazes de impulsionar e incentivar a auto-organização dos estudantes frente a todos os ataques e na linha de frente das lutas que estão em curso dentro e fora da universidade.