Milei com Trump: Mais endividamento e rendição

29 de Setembro, 2025
4 mins leitura

Por José Castillo, dirigente da Esquerda Socialista (IS), secção da UIT-QI na Argentina, e da Frente de Esquerda e dos Trabalhadores – Unidos (FIT-U)

O presidente Milei finalmente conseguiu reunir-se com Donald Trump, que lhe garante apoio político e financeiro, em troca, sem dúvida, de que o governo argentino continue a ser seu aliado incondicional e por mais privilégios para a pilhagem. Tudo terminará com mais dívida externa que se pretende que seja paga pelo povo trabalhador com mais ajustes.

Em abril passado, o governo americano teve que sair em socorro de Milei. Fê-lo promovendo um empréstimo do FMI de 20 mil milhões de dólares, dos quais 12 mil milhões foram enviados quase automaticamente. Passaram-se apenas seis meses e, mais uma vez, Trump teve de sair como bombeiro para quem quer aparecer como seu melhor aluno. O governo de Milei conseguiu avançar com a motosserra e a super-austeridade, mas demonstrou que era uma mentira absoluta aquilo do “crescimento em V” ou da reativação económica. Falhou na sua própria lei. Toda a sua política económica está ao serviço de garantir os pagamentos da dívida externa e cumprir as exigências do FMI, mas está a afundar-se por nem sequer conseguir cumprir isso. É que não há dólares suficientes para manter a cotação artificialmente baixa, financiar a fuga de divisas e, ao mesmo tempo, cumprir os vencimentos da dívida externa.

A semana passada terminou com o governo a vender mais de 1,1 mil milhões de dólares para sustentar a corrida contra o dólar, sem conseguir evitar que este continuasse a subir, enquanto as ações na bolsa de Buenos Aires e os títulos da dívida caíam e o risco-país disparava.

Foi aí que o imperialismo americano apareceu como ‘o salvador’ de um governo em extrema fragilidade. Numa viagem que, antes de partir, tinha o cheiro de ‘vou jogar a minha última carta’, o presidente Milei conseguiu a tão esperada reunião com Trump e, mais importante, o compromisso de que o governo norte-americano sairia em apoio e fortaleceria o maltratado projeto de La Libertad Avanza.

Antes da viagem, o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, publicou na rede social X que “a Argentina é um aliado de importância sistémica para os Estados Unidos na América Latina. E o Tesouro dos Estados Unidos está preparado para fazer o que for necessário dentro do seu mandato para apoiar a Argentina”.

A viagem de Milei tem todos os sinais de uma vassalagem absoluta aos pés do imperialismo. Além da reunião com Trump, inclui outra com a chefe do FMI, Kristalina Georgieva, e, para sobremesa, um encontro com o genocida Netanyahu.

O sinal antes de partir: eliminação das retenções

Na segunda-feira de manhã, o governo acordou cedo com a notícia de que eliminaria as retenções aos monopólios agro-exportadores até o final de outubro, um negócio lucrativo para a Cargill, Dreyfuss, ADM, Cofco, Bunge e mais algumas multinacionais, que receberão aproximadamente 1,6 mil milhões de dólares em troca do adiantamento das vendas remanescentes de soja e outros cereais. Outro trunfo na manga do ministro Luis ‘Toto’ Caputo para tentar angariar algumas divisas. A contrapartida é que o montante que o governo deixará de arrecadar equivale ao necessário para financiar o aumento do orçamento universitário e a Lei de Emergência em Pediatria. Mais uma prova de que o slogan “Não há dinheiro” só vale para o povo trabalhador, para as pessoas com deficiência, para a saúde e a educação, mas nunca para os ricos.

O imperialismo americano ao resgate: em troca de quê?

Trump saiu em socorro do seu principal vassalo na região. Não será de graça: não só porque isso garante a continuidade do alinhamento incondicional do governo argentino com todas e cada uma das políticas do imperialismo ianque (a ponto de o nosso país ser, junto com os Estados Unidos, praticamente os únicos aliados que restam ao carniceiro Netanyahu), mas também porque a ‘ajuda’ consistirá num empréstimo direto do governo ianque, que terá de ser devolvido com os respectivos juros. Em resumo, mais dívida externa que se soma à bola de neve infernal que o povo trabalhador terá de pagar com mais ajustes e miséria. Sem dúvida, serão acrescentados mais privilégios, escritos ou não, para as empresas ianques que operam no nosso país.

Na década de 1930, o governo oligárquico surgido do primeiro golpe militar assinou um autêntico pacto de entrega semicolonial ao imperialismo ianque, que ficou conhecido na história como Pacto Roca-Runciman. Era conhecido como “o estatuto legal do colonialismo”, justamente porque Julio A. Roca (então vice-presidente da nação e filho do genocida contra os povos originários) havia brindado dizendo que “a Argentina é uma das jóias mais preciosas de Sua Graciosa Majestade”.

A história repete-se, corrigida e ampliada. Um presidente extremamente enfraquecido pela rejeição popular e assediado pela desconfiança dos mesmos abutres financeiros que até hoje privilegiou, corre para lamber as botas do mestre ianque, numa atuação exagerada e vergonhosa.

Milei talvez consiga escapar, com a ajuda de Trump, de ser levado por uma corrida cambial como a que se avizinhava até a semana passada. Mas não vai conseguir reverter a raiva crescente, as mobilizações massivas contra ele e a rejeição eleitoral que se aproxima no próximo dia 26 de outubro. Continua a crescer o sentimento popular de que Milei não vai mais longe.

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