O “plano de paz” de Trump é uma tentativa de nova colonização de Gaza

15 de Outubro, 2025
5 mins leitura

Pela UIT-QI

No Egito, depois de passar por Israel, Donald Trump anunciou ao mundo o início da “era dourada do Médio Oriente” e afirmou que “finalmente temos paz”. Trump não se cansou de se apresentar como o suposto grande pacificador mundial e de se gabar de que “este é o amanhecer histórico de um novo Médio Oriente”. Fê-lo rodeado por representantes de vários governos burgueses árabes e muçulmanos e por governantes imperialistas europeus como Macron (França), Meloni (Itália), Starmer (Reino Unido) e Pedro Sánchez (Estado espanhol).

O documento, intitulado “Declaração de Trump para a Paz e Prosperidade Duradouras”, traz as assinaturas de Trump, do presidente egípcio Abdel Fattah Al-Sisi, do chefe de Estado turco Recep Tayyip Erdoğan e do emir do Catar, Tamim bin Hamad al-Thani. Curiosamente, nem o governo de Israel nem a liderança do Hamas — os principais protagonistas — estiveram presentes ou assinaram a declaração. Isso demonstra que o “plano de paz” não tem bases sólidas nem é realmente aceite pelo próprio Estado sionista.

Desde a UIT-QI, antecipamos que este suposto acordo de paz nada tem de pacífico: é uma tentativa de impor uma nova colonização de Gaza. São 20 pontos que visam instalar um protetorado do imperialismo como um todo e do Estado genocida de Israel. É também uma tentativa de Trump de salvar Netanyahu em meio ao enorme e crescente isolamento mundial do sionismo israelita.

Milhões saem às ruas para repudiar o genocídio e apoiar a causa palestiniana. Houve duas greves gerais inéditas em Itália (22/09 e 3/10), com marchas multitudinárias em apoio ao povo palestiniano e em defesa da histórica Flotilha Global Sumud — histórica porque, pela primeira vez, partiu com mais de 50 barcos e cerca de 500 tripulantes de 44 países, com a participação de uma delegação da UIT-QI. 

Meio milhão de pessoas mobilizaram-se em Londres no dia 12/9 e uma greve será realizada no Estado espanhol no dia 15/10. Tudo isto obriga Trump a fazer a manobra do “plano de paz”, pretendendo apresentar os Estados Unidos — e a sua própria pessoa — como “garantes da paz” no Médio Oriente, quando na realidade são os históricos sustentadores do Estado genocida de Israel e promotores de todas as agressões militares imperialistas na região e no mundo.

Tal é a crise de Israel e do seu governo criminoso que, após dois anos de bombardeamentos, destruição maciça e milhares de mortes palestinianas, não conseguiu proclamar vitória, e Trump teve de inventar um suposto plano de paz. Ele surge como um salva-vidas para Netanyahu depois da maior isolação internacional de toda a história de Israel, visível na sessão quase vazia da ONU. É um resultado direto da crescente pressão do movimento de massas mundial em solidariedade com o povo palestiniano, que exige o isolamento dos genocidas e dos seus cúmplices.

O plano é apresentado no momento em que expira o prazo dado pelo governo israelita às suas tropas para conquistar a cidade de Gaza — algo que está longe de conseguir —, sem também ter libertado reféns, e quando há sinais de esgotamento e dificuldades em substituir as tropas sionistas.

O próprio Trump afirmou isso abertamente no parlamento israelita: “Uma Gaza em ruínas e crianças a morrer de fome haviam manchado tanto o nome do primeiro-ministro israelita que não havia outra opção senão pôr fim a isso. Eu disse-lhe: ‘Bibi (Netanyahu), serás lembrado por isto (o plano de paz) muito mais do que se tivesses continuado assim, a matar, a matar’” (Clarín, Argentina, 14/10/2025).

A primeira fase do “plano de paz” prevê uma trégua com cessar-fogo, a libertação dos reféns, de quase 2000 prisioneiros palestinianos, a retirada do exército sionista de 47% do território de Gaza e a entrada de ajuda humanitária. Milhares de palestinianos e palestinianas saíram às ruas para celebrar o cessar-fogo e, de imediato, centenas de milhares iniciaram o regresso ao norte de Gaza.

Os palestinianos respiram, aliviados, enquanto crescem os números da destruição e da morte causadas pela máquina assassina que recorreu a todos os crimes imagináveis. Estes factos são uma pequena, mas importante vitória do povo palestiniano, que sofre um genocídio, fome e um plano de limpeza étnica. O povo palestiniano sabe que se trata apenas de uma trégua parcial e que o sionismo pode retomar os seus crimes a qualquer momento. Israel já assinou ou aceitou outros “acordos de paz”, como o de março de 2025, que rompeu unilateralmente quando devia retirar-se de Gaza.

Uma demonstração da falsidade e fragilidade da “paz de Trump” é que, 24 horas após o anúncio, Israel já denunciava o “incumprimento do acordo” porque não foram devolvidos os corpos dos reféns mortos — quando sabem bem que estão sob os escombros, junto com milhares de corpos de palestinianos e palestinianas, fruto dos bombardeamentos criminosos de Israel.

O plano de 20 pontos é uma tentativa de uma nova forma de colonização do povo palestiniano, porque não conseguem aniquilá-lo. Propõe-se que Gaza seja governada por um comité internacional com “técnicos palestinianos”, presidido pelo ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair e pelo próprio Trump como consultor à distância.

Existem grandes contradições. Agora, em troca da devolução dos reféns do Hamas, propõe-se não expulsar os palestinianos de Gaza — quando antes se dizia que deviam ir para outros países e até se ofereciam 5 mil dólares por pessoa para que partissem.

O plano de expulsão em massa anunciado por Trump em fevereiro e ratificado por Netanyahu tem de recuar perante a resistência palestiniana, o esgotamento militar sionista e o crescente isolamento internacional resultante de enormes mobilizações. Trump afirma que Israel deve retirar gradualmente as suas tropas de Gaza, parar novas invasões de colonos na Cisjordânia e até propõe que, no futuro, exista um Estado palestiniano. Ou seja, ressuscita a utopia reacionária dos “Dois Estados”, algo que Netanyahu e os seus ministros nazis já declararam inaceitável.

Os projetos de Trump para a Faixa de Gaza incluem um fundo fiduciário liderado pelos Estados Unidos durante dez anos e privilégios para investidores imobiliários para a “reconstrução de Gaza”. Ou seja, a “paz” de Trump está associada a um negócio milionário, supostamente financiado pelas monarquias petrolíferas árabes, em benefício dos seus “parceiros”: o seu genro, Jared Kushner, e o enviado dos EUA para o Médio Oriente, Steve Witkoff — ambos investidores na construção civil.

Este novo plano colonizador conta com o apoio da União Europeia (UE), dos governos burgueses árabes (Arábia Saudita, Egito, Catar, Jordânia) e da Turquia, entre outros. Isolado, o Hamas não o rejeitou de imediato, mas afirmou querer discutir vários pontos, declarando que não se desarmaria até ter garantias de que Israel sairia de Gaza e da Cisjordânia e que só o faria perante um governo palestiniano genuíno — uma forma elegante de dizer “não”.

O genocídio vai parar? Não acreditamos. Já houve outras tentativas de acordos e Israel quebrou-os sempre.

Porque não acreditamos que, mesmo que haja uma trégua parcial, possa haver uma solução de fundo? Porque o genocídio começou há 78 anos. Israel não é um país: é um enclave imperialista, uma aberração artificial e racista. O imperialismo criou este enclave como ponta de lança para explorar os povos árabes e as suas riquezas petrolíferas.

Não haverá paz até que o Estado racista e colonial de Israel seja extinto e surja uma Palestina única, livre, laica, democrática e não racista, para onde a diáspora palestiniana possa regressar e onde palestinianos — muçulmanos, judeus ou cristãos — tenham os mesmos direitos e liberdades.

Por isso, o único caminho é continuar a impulsionar a mobilização dos povos do mundo. Desde a UIT-QI continuamos a apelar à mobilização pela rutura das relações de todos os governos com Israel — e pelo boicote artístico, comercial, desportivo, militar e diplomático ao Estado sionista. A Palestina é hoje o símbolo da luta de todos os povos contra a barbárie imperialista.

Palestina livre, do rio ao mar. Palestina vencerá!

Ir paraTopo

Don't Miss