Por João Santiago, militante da Corrente Socialista de Trabalhadoras e Trabalhadores, secção brasileira da UIT-QI
Em 21 de agosto de 1940, às 7:25h, morria o revolucionário mais perseguido do século XX, Leon Trotsky. Fora assassinado por Ramon Mercader, um agente secreto da GPU, a polícia política stalinista, que na noite anterior desferira um golpe mortal na cabeça de Trotsky com um quebrador de gelo dentro do seu gabinete de trabalho, em Coyacan, no México. Durante 5 dias o corpo de Trotsky foi velado e mais de 300 mil pessoas foram se despedir do revolucionário russo.
Antes de seu assassinato, Trotsky já tinha sentido o peso das tragédias pessoais e políticas, com os assassinatos de seus filhos, como Leon Sedov, dos companheiros de partido que, mesmo capitulando ao stalinismo, foram covardemente assassinados nas prisões stalinistas, com a farsa dos Processos de Moscou, como Kamenev, Zinoviev e o último dos companheiros, Rokovsky. Trotsky não tinha dúvida: “Stálin quer a minha morte”[1]. E o motivo principal: o papel da IV Internacional nos acontecimentos mundiais e no próprio curso da guerra interimperialista.
A IV Internacional : a mais importante tarefa da vida de Trotsky
Quando estava no breve exílio na França em 1935 Trotsky escreveu em seu diário que o trabalho que fazia naquele momento era o mais importante de sua vida “mais importante que 1917 (tomada do poder na Rússia), mais importante que a época da guerra civil etc”[2].
Como pode o organizador do Comitê Militar Revolucionário que comandou a insurreição que deu o poder aos Soviets em outubro de 1917, o organizador do Exército Vermelho formado por operários e camponeses que durante três anos combateu a contrarrevolução burguesa em uma guerra civil implacável e consolidou o primeiro Estado Operário no mundo fazer tal afirmação? Não fora a Revolução Russa, que dirigira ao lado de Lênin, a sua obra prima mais importante?
Trotsky tinha certeza de que com a vitória do nazi-fascismo na Alemanha e Itália e a crise sem precedentes do capitalismo imperialista uma nova guerra mundial estava próxima, desta vez tendo como contrapeso a existência do primeiro Estado Operário da história da humanidade. Esta guerra poderia culminar com a vitória do nazi-fascismo e o consequente esmagamento da URSS ou com a vitória da revolução socialista mundial.
Para isso, a IV Internacional, fundada em 1938, após a bancarrota da III Internacional pela política stalinista, precisava estar organizada e consolidada nos principais países imperialistas e, inclusive, no interior da URSS.
Trotsky acreditava que a burocracia comandada por Stálin era um entrave absoluto para a vitória da revolução mundial, e isso ficou comprovado com o pacto Germano-soviético, onde Stálin deu carta branca para que Hitler invadisse a Polônia e começasse a II Guerra Mundial. Este era um pacto fracassado, pois cedo ou tarde Hitler voltaria seus tanques para a URSS, como de fato aconteceu.
Programa de Transição: É preciso resolver a crise histórica da direção do proletariado
Um dos principais legados de Trotsky para o movimento operário e de massas foi o Programa de Transição, escrito para a fundação da Quarta Internacional, em 3 de setembro de 1938, em Périgny, subúrbio da França. Trotsky pessoalmente não pode ir ao Congresso de fundação, pois estava impossibilitado de sair do México, o único país do mundo que lhe dera um visto permanente, por conta da perseguição stalinista.
Para Trotsky “as premissas objetivas da revolução proletária não estão somente maduras, mas começam a apodrecer”, e caso a revolução socialista não fosse vitoriosa no próximo período histórico “toda a civilização estará ameaçada de ser conduzida a uma catástrofe” e complementou: “a crise histórica da humanidade se reduz à crise da direção revolucionária”[3].
Após a queda do “Muro de Berlim”, e a desordem mundial instalada, novos dirigentes tentaram ocupar o vazio deixado pelo stalinismo a nível mundial: Chavez na Venezuela, e seu sucessor o ditador Maduro, Lula no Brasil, Syriza na Grécia, Podemos na Espanha, Evo Morales na Bolívia, Melenchon na França. Todos os que chegaram ao poder fracassaram, “traíram” as massas e seus princípios; com Chavez (e Maduro) e Lula, Evo Morales, Daniel Ortega na Nicarágua, o ex-dirigente sandinista que derrubou Somoza em 1979, seus países e povos continuaram tão pobres e miseráveis como antes, porque novamente aplicaram as mesmas receitas, com novos nomes, “socialismo do século XXI”, para tentar conciliar o inconciliável: a economia estatal com a economia privada, “empresas mistas”, etc.
Nos 85 anos do assassinato de Trotsky, a UIT-QI mantém as bases do Programa de Transição e coloca que a única saída para evitar a catástrofe econômica e climática sobre os trabalhadores e derrotar a extrema-direita com Trump na cabeça, é derrubar o capitalismo e instaurar governos operários e populares, com a mais ampla democracia para as massas, expropriando a burguesia. Socialismo ou catástrofe está na ordem do dia. O genocídio do Povo Palestino pelo Estado nazi-sionista de Israel, colocam a necessidade de uma direção revolucionária, da IV Internacional, tal como queria Trotsky, em toda sua vigência.
NOTAS:
[1] Leon Trotsky. Escritos, Tomo XI, 1939-40, Volume 2. Bogotá: Editorial Pluma, 1979, pág.317.
[2] Trotski, Diário do Exílio, idem, pág. 55.
[3] Leon Trotsky. Programa de Tansição: a agonia do capitalismo e as tarefas da IV Internacional. São Paulo: Editora Sunderman, 2004, pp. 10-11.