Carta Aberta aos camaradas que têm rompido com o Bloco de Esquerda

16 de Junho, 2025
3 mins leitura

Por uma nova etapa na reorganização da esquerda revolucionária em Portugal

Camaradas,

Lemos com atenção e respeito a vossa carta de rutura com o Bloco de Esquerda. Sabemos, por experiência própria, o quanto custa romper com uma organização à qual se entregaram anos de militância e esperança. Muitos de nós viemos desse mesmo processo — e compreendemos, sem paternalismo nem julgamento, o peso dessa decisão. Por isso vos escrevemos: não apenas para manifestar solidariedade, mas para abrir um diálogo político fraterno e consequente.

Partilhamos grande parte das críticas que fazem ao Bloco. O seu esvaziamento democrático, a centralização burocrática da direção, o desprezo pelas vozes críticas e a degradação nas relações com os próprios trabalhadores da organização não são desvios acidentais. São o reflexo inevitável de um projeto reformista em declínio, que abdicou há muito da luta pela transformação radical da sociedade e escolheu o caminho da adaptação ao regime. A chamada “geringonça” foi, nesse sentido, a viragem decisiva: ao tornar-se muleta de um governo PS, sem sequer batalhar por condições ou exigências mínimas, o BE suspendeu a luta de classes e escolheu o “realismo” das salas de reuniões ao confronto com os exploradores. Esse caminho não podia senão conduzir à estagnação, ao desencanto e ao colapso.

Compreendemos que haja entre vós diferentes posições. Alguns procuram reconstruir um projeto coerente à esquerda do Bloco. Outros hesitam entre continuar como independentes ou ajudar a formar um novo partido. Outros, talvez, consideram ter encerrado o seu ciclo de militância partidária. Mas dirigimo-nos em particular aos que compreendem que a crise que enfrentamos — social, ecológica, económica e política — exige mais organização, mais luta, e não menos.

O Trabalhadores Unidos nasceu da crítica profunda a esta trajetória reformista. Sempre fomos oposição frontal à geringonça e à ilusão de que se pode “governar com o PS” sem trair a classe trabalhadora. Sempre afirmámos a necessidade de construir um partido revolucionário, com programa, estratégia e método — e não apenas mais uma frente eleitoral ou plataforma de influências. Não o fazemos por nostalgia do passado, mas por fidelidade ao presente: só uma força anticapitalista, independente e enraizada nas lutas concretas pode fazer frente à ofensiva da extrema-direita, à austeridade que regressa e à crise do regime.

Sabemos que muitos entre vós desconfiam do “centralismo democrático”, tantas vezes usado como máscara para o centralismo burocrático. Mas deixem-nos ser claros: o problema do BE não foi excesso de centralismo, mas falta de democracia real. O centralismo revolucionário é outra coisa: é a construção coletiva de uma linha política, com base na livre discussão em organismos de base que funcionam, na transparência organizativa e na ação unificada. Não há partido revolucionário sem democracia interna — mas também não há partido sem direção política, sem clareza programática e sem organização militante.

Por tudo isto, fazemos-vos um apelo fraterno, direto e urgente.

Aos militantes de base, aos quadros locais e regionais que saíram — não fiquem isolados. Não deixem que a desilusão se torne desmobilização. O Trabalhadores Unidos convida-vos a vir conhecer o nosso partido, discutir connosco e intervir ao nosso lado nas lutas concretas — nos sindicatos, nas greves, nas escolas, nas ruas, nas campanhas contra a extrema-direita, na defesa dos serviços públicos. Há espaço e necessidade para cada uma e cada um de vós.

A todos os militantes que romperam ou estão em rutura com o Bloco de Esquerda e procuram uma alternativa de esquerda consequente, àqueles que têm liderado este processo de rutura, em especial à antiga direção distrital de Santarém, dirigimos um apelo político claro: que se convoque um encontro nacional dos militantes em rutura com o Bloco, aberto à participação de organizações do campo da esquerda revolucionária. Um espaço para discutir, em liberdade e com método, o que fazer com esta crise. Para tirar lições da experiência do Bloco e avançar na reorganização da esquerda socialista e revolucionária em Portugal. Não deixemos que este momento se perca em projetos difusos ou meramente locais. Que não seja o fim de uma história, mas o começo de outra.

Precisamos de um partido dos trabalhadores e da juventude, democrático e combativo, feminista, antirracista e internacionalista. Que lute sem vacilações por um governo dos trabalhadores e do povo pobre. Que não tema dizer que o socialismo é não só necessário, mas possível — e que se constrói desde já, com os pés bem assentes na luta concreta, mas com os olhos postos no horizonte da revolução. Queremos fazê-lo convosco.

Com espírito fraterno e combativo,
Trabalhadores Unidos
Lisboa, junho de 2025

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