Os bombeiros sapadores declararam uma greve de 30 dias, por todo o mês de outubro, e estão dispostos a ir muito mais longe, “dentro ou fora da legalidade”, para serem ouvidos. De facto, houve, só no último ano, várias greves e mobilizações deste setor profissional, sem que as suas reivindicações tenham sido devidamente atendidas. Hoje, mesmo contra a vontade de alguns dos seus dirigentes sindicais, a justa revolta destes “profissionais de salvar vidas” derrubou as baias das escadarias de S. Bento e chegou ao topo, numa demonstração de força e indignação, obrigando todo o país a vê-los e ouvi-los, sem que o governo os possa continuar a ignorar.
Efetivamente, os bombeiros sapadores recebiam, em 2002, duas vezes e meia o salário mínimo, uma diferença abismal considerando que atualmente recebem apenas 150 euros acima do salário mínimo, a que se acrescenta um ridículo subsídio de risco de 7 euros. Reclamam, por isso, a equivalência desse subsídio àquilo que já foi estabelecido para outros setores do estado, assim como uma reclassificação na carreira e uma idade de reforma que não os obrigue a andar a apagar fogos aos 60 anos de idade.
Saudamos a luta destes profissionais e a sua radicalização, já que demonstra que perceberam que só com ações massivas e métodos de luta mais radicalizados é possível encostar o governo às cordas, à semelhança do que aconteceu há dois anos com a luta no setor da educação. Os sucessivos governos do PS e do PSD são os culpados pela degradação das condições de trabalho de toda a função pública e da destruição de carreiras dignas, motivo pelo qual hoje diferentes setores públicos têm saído à rua por melhores carreiras e salários. Mais do que nunca, é preciso termos Trabalhadores Unidos para enfrentar a degradação dos serviços públicos e conquistar condições de trabalho dignas.
Existe uma óbvia tentativa de cooptação desta luta pela extrema-direita que, de forma oportunista, apenas para obter dividendos políticos, cavalga a raiva e descontentamento destes profissionais, prometendo-lhes tudo para ganhar apoio e votos, mas mantendo silêncio sobre as dezenas de milhares de bombeiros voluntários que também precisam de ser profissionalizados. Demagogicamente, os defensores de diminuir o estado, cortar orçamentos e privatizar todos os serviços públicos aparecem no último período a apoiar as reivindicações de todos os sectores que têm saído à rua – polícias, bombeiros, funcionários judiciais e até professores e profissionais de saúde -, sectores que o CHEGA defende serem completamente privatizados e precarizados.
O país está solidário com os bombeiros, inclusive com os seus métodos mais radicalizados, uma vez que foram eles que estiveram na linha da frente do combate aos incêndios florestais no país. Acreditamos que a melhor forma de dar uma resposta a esta justa mobilização é não deixar que a sua luta fique isolada, exigindo às centrais sindicais a construção de um plano de lutas que unifique os diferentes setores laborais descontentes, começando pela função pública e avançando rumo à construção de uma greve geral por aumentos salariais, melhores condições laborais e reforço dos serviços públicos.