Em termos gerais, os resultados das eleições europeias tem mais que ver com a política nacional de cada país do que propriamente da visão das suas populações sobre a União Europeia. Em países como Espanha, França e Alemanha, os partidos que formam governo foram largamente prejudicados.
Cenário Europeu
Nestas eleições esperava-se um grande reforço dos partidos de extrema-direita no parlamento europeu. No entanto, esse tsunami acabou por se refletir apenas em certos países e não foi um fenómeno a nível europeu. A extrema-direita aumentou os votos, mas a subida foi especialmente concentrada na França e na Alemanha, em que a Reunião Nacional (RN), de Marine Le Pen, e a Alternativa para a Alemanha (AfD) ficaram em primeiro e segundo lugar, respectivamente.
A verdade é que o maior grupo no parlamento europeu manteve-se o Partido Popular Europeu (PPE) – de onde fazem parte o PSD e o CDS. O Renovar Europa (RE) – onde se encontra a Iniciativa Liberal (IL) –, decresceu, mas, novamente, foi reflexo do resultado na Alemanha e França, em que os partidos que compõem a RE fazem ambos parte do Governo nos seus respectivos países. Os Socialistas e Democratas (S&D) – onde se inclui o PS – também decresceu.
Em termos gerais, os resultados das eleições europeias tem mais que ver com a política nacional de cada país do que propriamente da visão das suas populações sobre a União Europeia. Em países como Espanha, França e Alemanha, os partidos que formam governo foram largamente prejudicados. Isto é consequência direta das políticas aplicadas por diferentes governos à crise económica, que não resolvem os problemas da classe trabalhadora e de partes da pequena burguesia. Procuram assim alternativas aos governos mas, tragicamente, sem uma alternativa à esquerda, vão procurar soluções à extrema-direita.
Crise Política agrava-se na França
Macron foi penalizado nestas eleições, com a sua coligação a conseguir metade do que a RN de Marine Le Pen conseguiu. Macron apressou-se a convocar eleições antecipadas já para o mês de Junho. Com esta jogada, o presidente francês tenta assim canalizar a polarização anti-Le Pen para se fortalecer novamente, mas é uma jogada arriscada e que provavelmente lhe deixará sem controlo do governo.
A convocatória para novas eleições no final do mês chocou todos os partidos, que correram para tentar ganhar apoios fora dos seus partidos, para umas eleições em que a polarização e o peso do “voto útil” se prevê o fator principal.
À direita os Republicanos – partido tradicional da centro-direita – entrou numa crise aberta sobre o apoio, ou não, a Le Pen. À sua direita, o partido de Eric Zemmour, Reconquista (R), entrou também em crise, expulsando do partido, entre outros, 4 dos 5 eurodeputados que acabava de ganhar nas Europeias.
À esquerda, o partido de Jean-Luc Mélenchon, França Insubmissa (LFI), ficou atrás do Partido Socialista Francês (PSF), que parece estar a recuperar da crise que vinha a sofrer há quase 10 anos. A frente popular que LFI e PSF ensaiaram nas últimas legislativas acabou por rejuvenescer o PSF. Agora, os dois partidos preparam-se para uma nova Frente Popular, desta vez com o PSF como líder da coligação.
Em Portugal, a crise do centro mantém-se
Tal como as eleições europeias noutros países, em Portugal o resultado nas eleições são resultado do que tem sido as políticas destes partidos a nível nacional. Isso, combinado com a elevada abstenção – que, apesar de tudo, diminui face há 5 anos atrás –, significa que as conclusões a retirar destas eleições são muito limitadas.
Em primeiro, ressalta a vitória do PS e o PSD em segundo lugar. Na verdade, repete-se o resultado das Legislativas, com os dois partidos praticamente empatados em número de votos. O PSD tentou tudo para que estas eleições europeias servissem para dar um impulso ao seu governo. Foi negociando com setores da classe trabalhadora que tinham estado mobilizados no último período – professores, polícias, funcionários judiciais, etc –, e reduzindo impostos. No entanto, estas medidas saíram quase todas ao lado, o negociado com os professores deixa alguns de fora, a redução de impostos traduziu-se só para os mais ricos, e, com o começo do verão, o SNS já está a apresentar novas crises. Isto traduziu-se neste resultado do PSD.
A vitória do PS também foi amarga, já que se manteve muito próxima do PSD, mas conseguiu mais um deputado. O que é certo é que a crise dos partidos do centro continua a aprofundar-se.
O Chega, que nas últimas eleições europeias ainda não era um partido legalizado, conseguiu 2 deputados. Ainda assim não deixou de ser um resultado que ficou aquém dos 4 deputados com que André Ventura contava. Comparado com as legislativas, o Chega passou de 18% para 9,9%. Mas esta queda não é propriamente uma queda de apoio. Trata-se, por um lado, do resultado da escolha de um cabeça-de-lista desconhecido e com uma bagagem de polémicas, por outro, de não conseguir mobilizar tanto da abstenção para o voto de protesto, numas eleições que dizem tão pouco para os portugueses.
Por outro lado, a IL teve mais votos que nas legislativas, apesar da tremenda diferença na abstenção.
Já a esquerda prefere transformar uma derrota numa vitória. O Bloco de Esquerda (BE), que passou de 2 deputados para 1, diz que “resistiu”, como se a sua direção não fosse parte responsável na queda eleitoral. O PS, agora na oposição, apresentou-se mais à esquerda, o que retirou votos ao Bloco. Para além disso, o apoio do Bloco de Esquerda, a uma maior colaboração entre os exércitos europeus, também afastou alguns votos.
O PCP, que nestas eleições se apresentou mais vincadamente eurocético, acabou por não descer tanto como nas legislativas.
Já o LIVRE que conseguiu quatro deputados na assembleia da república, não conseguiu eleger nenhum eurodeputado; uma derrota para um partido vincadamente europeísta. O facto do candidato Francisco Paupério não ter apoio completo da direção ajudou a esse desfecho, mas também acabou por perder votos quer para o PS, quer para o BE.
É também surpreendente o resultado do ADN, que aproveitou a subvenção que recebeu depois das legislativas. O surgimento do ADN faz parte do mesmo fenómeno que faz crescer o restante da extrema-direita a nível mundial: aproveita-se de uma desconfiança que existe com o regime atual, mas dá uma saída que não coloca em causa a propriedade privada, apontando antes para um vago governo oculto.
A alternativa que é preciso
Mais que tudo, estas eleições demonstram a necessidade de uma alternativa de esquerda, combativa, que aponte a real natureza do projeto europeu. O MAS, como parte da Unidade Internacional de Trabalhadoras e Trabalhadores – Quarta Internacional, está determinado em ser parte chave da construção dessa alternativa, em Portugal e no resto da Europa.