O descrédito nos nossos governantes e instituições, que permitem o saque dos recursos e da riqueza do país, lesando o erário público para benefício próprio e de interesses privados, é mais do que justificado. Para uma fatia cada vez maior da população é evidente que, durante os 8 anos de governação de António Costa, o mercado da habitação continuou desregulado, com rendas sempre a aumentar, as leis laborais pré-troika não foram restituídas e os salários continuaram a perder valor, enquanto os serviços públicos continuaram a degradar-se a olhos vistos, abrindo caminho aos privados para lucrarem com a situação.
Juntando-se a estes problemas os diversos casos de corrupção no governo, não admira que, para milhares, a distinção entre PS e PSD seja cada vez menor. A resposta branda e institucional da esquerda parlamentar, com olhos postos na possibilidade de uma Geringonça 2.0, em nada ajuda a dar voz e corpo a este sentimento e é um dos principais motivos pelos quais cada vez menos trabalhadores confiam na sua política, acabando por procurar uma alternativa na extrema-direita oportunista e mentirosa, que muito grita contra a corrupção, desde que não seja a praticada no seu próprio quintal.
Infelizmente, a esquerda parlamentar parece estar mais preocupada em, tal como o PS, salvar a credibilidade das instituições, ajudando a alimentar ilusões nos mecanismos que permitem toda esta desigualdade e injustiça, enquanto omitem que é precisamente o sistema capitalista, sem reforma que possa curar a sua corrupção inerente, com negociatas vantajosas e privilégios de todo o tipo para as elites que nos afundam, perpetuadas sem exceção por todos os partidos do centrão e da direita, que devemos combater.
Nenhuma nova geringonça fará o governo PS ser radicalmente diferente em relação aos últimos 8 anos. Por outro lado, o receio de o PSD voltar a governar, ou de o seu sucedâneo trauliteiro CHEGA crescer nas eleições, não pode ser desculpa para eternizar o PS e os seus governos, que respondem, tal como os outros, aos grandes grupos económicos e aos patrões que lhes financiam as campanhas e os acolhem em cargos quando os mandatos terminam.
Os trabalhadores devem aproveitar este momento de crise para fortalecer a sua organização e a sua resistência às políticas neoliberais que PS e PSD vêm aplicando nas últimas décadas e que CHEGA e IL querem aprofundar, a fim de pressionar este e qualquer eventual novo governo a atender às exigências do povo. Face às eleições, é também essencial avançar na construção de uma alternativa política dos trabalhadores.
A esquerda parlamentar tem de largar as pantufas
Se está claro que o neoliberalismo do PS não serve e o do PSD, com ou sem apoio dos partidos à sua direita, também não, então é responsabilidade da esquerda apresentar uma alternativa a todas essas forças. Só acompanhando de forma inabalável o justo descontentamento de milhares com o PS, tanto pela sua política ruinosa de empobrecimento e destruição dos serviços públicos, tanto pelo escandaloso aproveitamento que destacadas figuras fazem do dinheiro público para benefício próprio e de interesses privados, é possível apresentar uma verdadeira saída alternativa ao bipartidarismo PS/PSD e ao populismo reacionário e autoritário da extrema-direita.
Apelamos, por isso, a que BE e PCP rompam de vez com a ilusão de um qualquer PS “progressista” e “de esquerda” e cheguem a acordo pré-eleitoral para formar uma frente unida em torno de um programa que defenda e lute verdadeiramente pelos interesses dos trabalhadores: pelo direito à habitação, à saúde e à escola públicas, assim como pelo aumento dos salários acima da inflação, sem medo de aplicar a taxação dos lucros extraordinários dos grandes grupos económicos e de exigir a condenação e o confisco dos bens de todos os políticos e grandes empresários envolvidos nas negociatas que afundam o país.