No início de julho, os militantes do MAS viram o seu partido ser sequestrado por um grupo minoritário de dirigentes que, ao compreender que a maioria do partido – tanto na direção, como na base – rejeitava o seu projeto de criar uma nova força política com contornos e métodos duvidosos, decidiu rasgar todos os seus princípios, agarrando-se ao aparato que estes “dirigentes históricos” viam como sua propriedade e não propriedade coletiva de todos os militantes, em total desrespeito pela democracia da organização.
Ao contrário do que nos acusaram, não foi por querermos um partido pequenino, sectário e sem representação parlamentar que rejeitamos a criação de um novo “sujeito político” à boleia da luta das escolas. Recusamos, isso sim, o projeto de camuflar as nossas ideias, assumindo uma postura oportunista de não sermos “nem de esquerda, nem de direita”, não só para ganhar votos mais facilmente, mas também para apanharmos nesta nova organização profissionais da educação incautos que, alheios ao que se passaria nos bastidores, depois teríamos a possibilidade de doutrinar, através da influência dos tais “históricos”.
Não recusamos a possibilidade de coligações ou até fusões com outras organizações, mas sim a falta de lealdade e transparência, que nada de bom pode construir. Por isso recusamos também a ideia de que, caso esse novo partido convidasse André Pestana para ser seu candidato, escondendo o seu envolvimento inicial, ninguém estranharia a sua ligação ao mesmo, ao mesmo tempo que consideramos um erro que se retirasse do seu importante papel a nível sindical, sem consideração pelo estado da luta nas escolas e do sindicato que dirige, sacrificando tudo para fazê-lo surgir como um fenómeno eleitoral nas próximas eleições europeias e assim subir o primeiro degrau necessário para a eleição como deputado nas legislativas.
Foi por isso com espanto que, ao mesmo tempo que nos sequestraram os meios, vimos ser lançado nas redes sociais o partido MUDAR, cujos subscritores iniciais correspondem em grande medida aos mesmos professores que nos tinham sido apresentados por este grupo minoritário de dirigentes como motores para a construção do tal “sujeito político” e cuja linha de argumentação é em tudo semelhante ao que nos tinham descrito como a abordagem a adotar, isto é, um “movimento de cidadãos”, sem definição ideológica, que se junta para defender que, através da eleição de uma grande “voz” para a Assembleia da República, todos os problemas que o país vive passariam magicamente a ser muito mais fáceis de resolver.
Apesar de esta quebra total do respeito, da lealdade e da confiança entre camaradas ter sido um duro golpe para muitos de nós – que, nalguns casos, levávamos longos anos a construir o partido e as lutas ao lado destes indivíduos –, este episódio lamentável não abalou a nossa vontade de continuar a construir o partido em que acreditamos. Assim, os militantes do MAS lançaram a campanha de solidariedade “Em Defesa do MAS”, para reaver a sua organização, reivindicando o respeito pela democracia interna, a devolução da comunicação do partido (e-mail, website, páginas das redes sociais) e a restituição, junto ao Tribunal Constitucional (TC), da sua direção legítima. Juntaram testemunhas, fizeram cartazes, mostraram coragem e, sobretudo, demonstraram que o MAS é construído pela força e vontade dos seus militantes e não pelas aspirações de um grupo restrito dos seus dirigentes, por mais “históricos” e infalíveis que estes se considerem.
Perante a recusa de Gil Garcia, João Pascoal, Daniel Martins, André Pestana e Flávio Ferreira em devolverem o partido à maioria da direção e dos militantes do MAS, vimo-nos obrigados a avançar, com a representação da advogada Leonor Caldeira, com uma queixa formal junto do Ministério Público contra este punhado de “dirigentes históricos”, por comunicações falsas ao TC e abuso de confiança quanto ao uso das redes sociais, e-mail, site e conta bancária do partido, tendo estas declarações falsas sido deliberadamente utilizadas para garantir o controlo ilegítimo do MAS.
Mas o partido não passou a estar centrado nesta disputa no tribunal. Pelo contrário, continuamos a lutar junto dos milhares de ativistas sindicais e sociais que saem à rua em protesto contra o aumento do custo de vida, os baixos salários, a precariedade, a falta de habitação, a degradação dos serviços públicos, o caos climático e todas as formas de opressão. Os militantes do MAS estão agora mais empenhados do que nunca em construir um partido democrático, que reúna a força de todos aqueles que, a partir de uma visão anticapitalista, sem medo de assumir ao que vêm, lutam pela construção de uma sociedade assente num sistema social e económico justo e igualitário, em que a democracia seja ditada pela vontade da maioria e não pelos interesses dos donos dos grandes grupos económicos, uma sociedade livre da exploração e opressão, a que chamamos socialismo. A quem nos lê e em nós se revê, lançamos o apelo: juntem-se a nós!