15/9/2023. Reproduzimos um artigo do france24.com sobre as greves dos construtores de automóveis nos Estados Unidos.
O poderoso sindicato United Auto Workers (UAW) iniciou, na sexta-feira, uma greve em três importantes fábricas de automóveis dos EUA, a primeira greve simultânea dos trabalhadores dos três grandes construtores de Detroit: General Motors, Ford e Stellantis.
Após o fracasso das negociações, os trabalhadores, estacionados à porta de uma fábrica da Ford, assinalaram o início da mobilização com buzinadelas e ‘vivas’ à meia-noite de quinta-feira.
“Esta noite, pela primeira vez na nossa história, entraremos em greve ao mesmo tempo nas ‘Três Grandes’”, declarou o presidente do UAW, Shawn Fain, num webcast pouco antes do fim do prazo para chegar a um acordo.
A mobilização das “Três Grandes” poderia desestabilizar a indústria automóvel e mesmo a economia dos EUA.
No entanto, apenas 12.700 trabalhadores estarão em greve na sexta-feira, de acordo com as estimativas do sindicato UAW, que representa 150.000 trabalhadores do sector automóvel.
Fain explicou que a greve afectará uma fábrica de cada construtor.
Para a General Motors, a unidade de montagem de Wentzville (Missouri) estará em greve, para a Stellantis a fábrica de Toledo (Ohio) será afetada, e a Ford fará greve em Wayne (Michigan), mas apenas nas operações de montagem final e pintura, que são críticas.
O UAW exige um aumento salarial de 36% em quatro anos, enquanto os três construtores americanos não ultrapassaram os 20% (Ford), segundo o sindicato.
Os gigantes históricos de Detroit também se recusaram a conceder dias de férias adicionais e a aumentar as pensões, asseguradas por fundos específicos da empresa.
“É altura de nos darem alguma coisa.”
Em dois meses de negociações, os representantes do UAW e os líderes das “Três Grandes” não conseguiram chegar a acordo sobre o conteúdo de um novo acordo coletivo de trabalho de quatro anos.
“Não permitiremos que as ‘Três Grandes’ continuem a arrastar as discussões por meses”, alertou Fain esta semana.
Muitos trabalhadores dizem que os gigantes do sector automóvel têm de apresentar propostas melhores para compensar os magros salários e os cortes nos benefícios após a crise financeira de 2008.
Esse colapso financeiro levou tanto a GM como a Chrysler, agora propriedade do Stellantis, a reestruturações, quando ambas estavam à beira da falência.
As três empresas têm sido muito lucrativas nos últimos anos.
“Esta empresa tem vindo a ganhar dinheiro há anos graças a nós”, disse Paul Sievert, um empregado que trabalha na fábrica da Ford, em Wayne, há 29 anos. “Acho que já é altura de nos darem algo em troca.”
O diretor executivo da Ford, Jim Farley, questionou na quinta-feira à noite o líder dos grevistas.
“Não sei o que Shawn Fain está a fazer, mas não está a negociar este contrato connosco quando ele está prestes a expirar. Mas sei que ele está ocupado a preparar-se para uma greve”, disse Farley na CNBC.
Quer “uma greve histórica nos três grupos, mas queremos fazer história com um acordo histórico”, disse o executivo.
Risco eleitoral para Biden
Uma agitação social prolongada poderá ter consequências políticas para o Presidente dos EUA, Joe Biden, cujo balanço económico tem sido alvo de críticas, especialmente devido à inflação persistente.
Em campanha para a reeleição em 2024, Biden está a pisar um terreno espinhoso e deve equilibrar o apoio expresso aos sindicatos com os receios sobre as consequências desta greve para a economia dos EUA.
Na quinta-feira à noite, o Presidente falou por telefone com Fain e com os executivos dos fabricantes para se inteirar das negociações.
“Os consumidores e os retalhistas estão, em geral, relativamente protegidos dos efeitos de uma greve de curta duração”, declarou Tyler Theile, vice-presidente do Anderson Economic Group (AEG).
Os analistas do JPMorgan acreditam que um aumento acentuado dos salários teria um impacto nos preços de venda dos veículos, levando os condutores a “manterem o seu carro durante mais tempo” em vez de comprarem um novo modelo.