Marrocos: Rebelião juvenil e popular

6 de Outubro, 2025
3 mins leitura

Por Miguel Lamas, dirigente do Partido Socialismo e Liberdade (PSL), secção da UIT-QI na venezuela, e da UIT-QI

Os protestos juvenis que abalam Marrocos, um dos países árabes do Norte de África, desde 27 de setembro, atingiram o seu ponto mais grave após o registo de três mortes e mais de 400 detidos durante o quinto dia consecutivo de manifestações. Alguns podem enfrentar “prisão perpétua”, segundo o Ministério Público. O que começou como uma reivindicação pacífica por melhorias nos serviços públicos transformou-se nos distúrbios mais graves que o país norte-africano vive desde 2017.

“Não queremos o Mundial, a saúde é prioritária”

Os protestos dos jovens em Marrocos já deixaram 3 mortos e mais de 350 feridos. Estas são as primeiras mortes relatadas desde que, no sábado, eclodiram enormes protestos liderados por jovens em todo o Marrocos, num contexto de crescente indignação pela decisão do governo de construir estádios de futebol para o Campeonato Mundial de Futebol FIFA de 2030, em vez de melhorar os serviços públicos e enfrentar a crise económica.

O chefe do governo de Marrocos, Aziz Akhannouch, confirmou as mortes, enquanto a polícia informou num comunicado que duas pessoas morreram quando os agentes recorreram à força para conter os manifestantes que tentavam invadir um edifício policial perto da cidade costeira de Agadir e se apoderar das armas armazenadas no local. Acusam os manifestantes de terem ferido 260 polícias, de terem destruído escritórios do governo, bancos e outros negócios, bem como de terem queimado dezenas de veículos policiais.

“Não queremos o Mundial, a saúde é prioritária” e “Os estádios estão aqui, mas onde estão os hospitais?” são alguns dos cânticos repetidos pelos manifestantes da ‘Geração Z’, a juventude que leva o nome das grandes mobilizações em muitos países do mundo. A maioria das mensagens de protesto relacionadas ao movimento nas redes sociais e nas ruas fazem alusão à má situação da saúde e da educação públicas em Marrocos e a contrapõem aos gastos milionários aprovados pelo governo para a construção dos estádios do mundial de FIFA de 2030, que o país magrebino organizará em conjunto com a Espanha e Portugal.

Também é denunciada a falta de oportunidades para os jovens. As estatísticas oficiais mostram que a taxa de desemprego em Marrocos é de 12,8%, mas o desemprego juvenil dispara para 35,8% e 19% entre os licenciados, informa a agência de notícias Reuters.

Um manifestante declarou, ao programa Newsday da BBC, que o hospital da sua cidade, Oujda, na fronteira com a Argélia, é como uma ‘prisão’. Está sujo e os pacientes têm de subornar os agentes de segurança e as enfermeiras para poderem consultar um médico, denunciou o manifestante, que falou sob condição de anonimato por medo de represálias.

O Ministério do Interior declarou que “o direito das pessoas de protestar dentro do quadro da lei seria respeitado”. Mas a dura repressão contra os manifestantes continuou. Akhannouch dirigiu uma mensagem televisiva ao país na quinta-feira e disse que o seu governo está pronto para “o diálogo e a discussão nas instituições e nos espaços públicos”. Mas muitos manifestantes exigem a sua demissão nos protestos.

No processo, formaram-se organizações juvenis que afirmam que vão continuar a luta. Isso é o que eles próprios afirmam, ao se autodenominarem ‘Geração Z’, como os manifestantes jovens no Nepal, Sérvia, Paraguai, Peru, Madagáscar e outros países. Os protestos tem uma razão de fundo em Marrocos e em grande parte do mundo, onde o capitalismo dominante deteriora aceleradamente o nível de vida do povo trabalhador e, em especial, da juventude, para manter os lucros dos grandes capitalistas e empresários multinacionais imperialistas que dominam os países e os seus governos. Por isso é necessário formar organizações revolucionárias para governos do povo trabalhador que acabem com este desastre social.

Desde a Unidade Internacional de Trabalhadoras e Trabalhadores da Quarta Internacional (UIT-QI), apoiamos incondicionalmente estas manifestações e nos solidarizamos com a luta da juventude e do povo trabalhador de Marrocos.

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