Enquanto mais de 1,6 milhões de utentes continuam sem médico de família, os blocos de parto fecham por falta de profissionais e as urgências colapsam todos os dias, o governo da AD decidiu que o investimento prioritário para o país não é o reforço do Serviço Nacional de Saúde, mas a corrida ao armamento.
O mesmo governo que não tem dinheiro para contratar médicos, aumentar salários ou reabrir centros de saúde encerrados, conseguiu arranjar mais 1300 a 1500 milhões de euros do que o previsto para atingir a nova meta de 2% do PIB em despesa militar até ao final do ano — o equivalente à compra de três submarinos. Esse valor, se investido na saúde, daria para construir seis novos hospitais ou contratar 10 mil médicos e 20 mil enfermeiros.
E isto é apenas o começo. A ofensiva contra os serviços públicos avança lado a lado com a militarização orçamental, ditada pelas ordens da NATO e da União Europeia. Em 2025, o governo prevê gastar mais de 3 mil milhões de euros em Defesa. E já se comprometeu com metas ainda mais ambiciosas: atingir 3,5% do PIB em gastos militares até 2035 — cerca de 10 mil milhões por ano, mais do triplo do atual orçamento da Defesa — a que se somam outros 1,5% para infraestruturas civis com uso militar. No total, serão mais de 88 mil milhões de euros canalizados para a guerra na próxima década.
O dinheiro que falta onde menos falta faz
Esse dinheiro não cai do céu: sai dos nossos bolsos. Sai da degradação dos hospitais públicos, das escolas sem professores, das pensões congeladas e dos salários que não chegam para viver. Sai da recusa em taxar as grandes fortunas e da obsessão com o “superavit” orçamental, conseguido à custa da degradação das condições de vida. Enquanto os mais ricos acumulam lucros históricos, o governo corta no essencial para financiar o rearmamento — hoje o eixo central da política económica da AD e da União Europeia.
As elites e os políticos que as servem vêem na indústria da guerra uma nova saída para a crise. Mas essa saída não resolve nenhum dos nossos problemas. Pelo contrário: a militarização da economia é uma estratégia das classes dominantes para sair da crise à custa de quem trabalha. Em vez de investir na recuperação do tecido produtivo, na reindustrialização do país e na criação de emprego digno, o governo aposta na guerra como motor económico — um negócio lucrativo para patrões, banqueiros e fabricantes de armas.
Na saúde, o desmantelamento do SNS é cada vez mais evidente. Em vez de contratar profissionais e reforçar a resposta pública, o governo promove a privatização encapotada do setor. As novas Unidades de Saúde Familiar “modelo C”, sob gestão privada, são apresentadas como mais “eficientes”, mas significam mercantilização dos cuidados e degradação do atendimento.
Ao mesmo tempo, os grandes grupos privados — CUF, Luz Saúde e Lusíadas — continuam a lucrar com recursos públicos, através de parcerias e contratos opacos. A dívida do SNS a fornecedores ronda os 1,4 mil milhões de euros, e mais de 1,6 milhões de utentes estão sem médico de família. Os blocos de parto fecham, as urgências colapsam, as listas de espera aumentam. Os mais ricos compram seguros e saltam as filas; os mais pobres esperam — e morrem.
O governo sabe o que está a fazer. Esta crise não é um acidente: é um plano. Uma continuação de décadas de políticas ao serviço dos grandes grupos económicos, com o aval do PSD, do CDS e do PS — e agora também do Chega, que se absteve na votação sobre o novo hospital de Faro, mesmo depois de ter capitalizado com o abandono crónico do Algarve. A destruição do SNS é uma escolha. Tal como é uma escolha canalizar fundos públicos para a guerra em vez de investir na saúde, na educação ou na habitação.
Nós dizemos: basta. Reforçar o SNS, não a NATO!
A destruição do SNS e a militarização da economia não são inevitáveis — são escolhas políticas ao serviço dos patrões, dos privados e da NATO. Contra essa política de guerra e miséria, a resposta tem de vir da luta coletiva e da mobilização popular. Por isso, apelamos com clareza: às centrais sindicais, aos sindicatos da saúde, aos movimentos de utentes e aos partidos da esquerda. É hora de construir um plano de lutas unitário, decidido democraticamente pela base, que una quem trabalha no setor e quem dele depende para viver.
É urgente convocar assembleias abertas nos hospitais e centros de saúde, organizar plenários locais e encontros nacionais de profissionais e utentes. Precisamos de discutir formas de luta e preparar mobilizações de rua e uma greve nacional do setor, que coloque no centro da agenda a exigência de um plano de emergência para salvar o SNS. Exigimos à CGTP e à UGT que rompam com a passividade. Não basta apelos simbólicos à “defesa do SNS”: é preciso convocar a luta.
O Trabalhadores Unidos propõe um programa de urgência com medidas claras e imediatas:
- Plano de emergência para contratar milhares de médicos, enfermeiros e auxiliares, com salários dignos e condições de trabalho decentes;
- Fim das PPP e reversão da gestão privada nos hospitais públicos;
- Nacionalização de todos os grupos privados que operam com dinheiros públicos na saúde.
Este programa não será implementado por nenhuma maioria parlamentar, nem por pactos com o PS. Só poderá ser arrancado com luta, com greve e com mobilização popular. Mas a luta pela saúde pública não pode vencer se não enfrentar também a política de militarização. Enquanto faltam profissionais no SNS, o governo canaliza milhares de milhões para tanques, drones e submarinos. Por isso, exigimos:
- Nem um cêntimo para a guerra. Dinheiro para hospitais, escolas e habitação — não para armas, tanques e drones.
- Recusa ao orçamento belicista da UE e à corrida armamentista imposta por Bruxelas e Washington.
- Saída imediata da NATO e fim de qualquer intervenção militar imperialista.
Reforçar o SNS exige romper com o modelo da austeridade, da privatização e da guerra. Isso só será possível com uma alternativa que não se limite a gerir a crise com rosto humano, mas que enfrente os responsáveis com coragem. Uma alternativa socialista, revolucionária e internacionalista, enraizada nas lutas concretas da juventude, dos trabalhadores e dos setores populares. É por essa alternativa que lutamos no Trabalhadores Unidos. E é a essa luta que te chamamos: organiza-te connosco.