Perante a escalada da guerra na Ucrânia

28 de Novembro, 2024
4 mins leitura

Por Unidade Internacional dos Trabalhadores – Quarta Internacional 

As tensões entre a Rússia e a Ucrânia aumentaram depois de o exército ucraniano ter efectuado o seu primeiro ataque com mísseis ATACMS de longo alcance dos EUA contra a região russa de Bryansk, pela primeira vez em quase três anos de invasão criminosa da Rússia. Em resposta, Vladimir Putin assinou um decreto que alarga as possibilidades de recurso a armas nucleares.

O risco de uma nova escalada dos confrontos não pode ser excluído. Faz parte dos perigos da crescente decadência do sistema capitalista-imperialista. É por isso que, como socialistas revolucionários, dizemos que nos opomos a todas as formas de armamento imperialista, seja dos EUA, da Rússia ou da China. O dilema continua a ser “Socialismo ou catástrofe”.

Esta guerra é o produto da invasão genocida do imperialismo russo, liderado pelo autocrata Putin, numa tentativa de colonizar a Ucrânia e o seu povo. Passaram mil dias desde que a invasão russa da Ucrânia começou, a 24 de fevereiro de 2022. Putin calculou que em poucas semanas tomaria a capital Kiev e triunfaria a invasão. Mas deparou-se com a resistência heroica do povo ucraniano, que fez recuar as tropas russas. Foi esta resistência popular-militar que impediu o assassino de Putin de tomar o país. 

O confronto bélico criou logicamente confusões e debates. Por isso, é importante ratificar que, diante de uma invasão militar de uma nação oprimida por uma potência imperialista, os socialistas revolucionários sempre estiveram do lado da nação explorada. Não somos neutros em tais guerras.

As dúvidas surgem do facto de Biden e o imperialismo europeu e a NATO aparecerem do lado da Ucrânia. É claro que estes imperialistas têm fricções e choques de interesses económicos com a Rússia e os negócios das suas multinacionais. Mas, se fizermos uma análise atenta, veremos que a política do imperialismo norte-americano e europeu tem sido, desde o início da invasão, e continua a ser, a de impedir uma vitória retumbante para a Ucrânia e também uma derrota retumbante para Putin e a Rússia.

Os EUA e o imperialismo europeu nunca quiseram a derrota de Putin, mas sim uma solução negociada

É por isso que, desde o início, eles retiveram a ajuda militar à Ucrânia e tentaram de todas as formas pressionar Zelensky a abrir negociações nas quais ele cederia parte do seu território. Isto foi tornado público em Davos 2022 pelo falecido Henry Kissinger e manifestado de várias formas através de Macron e do Vaticano. Tanto assim é que, na altura da invasão, Biden e Macron ofereceram a Zelensky um avião para o levar para o exílio e lhe dar segurança. 

Por outras palavras, aconselharam-no a render-se. A invasão do imperialismo russo só foi travada pelo heroísmo da resistência popular-militar ucraniana. O próprio Zelensky tem vindo a declarar há muito tempo que não recebem o armamento e as munições prometidos. Apenas no final de 2023 enviaram alguns tanques modernos e Biden continua a recusar-se, por exemplo, a fornecer apoio à aviação de combate de que a Ucrânia carece.

Só agora, após mil dias de guerra, é que Biden autorizou a utilização de mísseis ATACMS de longo alcance em alguns territórios russos. Até este momento, a Ucrânia estava diretamente “proibida” de os utilizar. Entretanto, a Rússia tem vindo a bombardear a Ucrânia há anos, tanto civis como barragens e centrais eléctricas. Diz-se mesmo que a “autorização” se limita à região de Kursk, que foi parcialmente tomada pelo exército ucraniano. A Rússia está agora a tentar recapturá-la com o apoio de dez mil soldados norte-coreanos.

É também importante salientar que, embora o apoio militar à Ucrânia seja limitado, os governos dos patrões na Alemanha, França e outros países da UE continuam a utilizar o argumento do “perigo de guerra” com a Rússia para aumentar os orçamentos militares, a fim de favorecer as suas empresas de armamento. Entretanto, por outro lado, continuam com os cortes sociais e a espremer a classe trabalhadora europeia.

Que o foco do imperialismo norte-americano é a negociação e não a derrota militar de Putin é também demonstrado pelos anúncios que Trump fez a este respeito, para quando tomar posse em 20 de janeiro de 2025. E a negociação é pressionar Zelensky a ceder o território já ocupado por Putin, tão simples quanto isso. 

Apoiamos a resistência popular-militar ucraniana sem dar apoio político ao governo de Zelensky e dizendo não à NATO

Denunciamos igualmente que as medidas anti-trabalhadores implementadas pelo governo de Zelensky para proteger os interesses dos patrões e da oligarquia, contra as quais os sindicatos protestaram, também não ajudam a resistência ucraniana. Não são os oligarcas que fazem a defesa na frente militar, mas sim os trabalhadores. Nem tampouco ajuda o projeto capitalista de Zelensky de “otimização”, com a privatização dos principais serviços públicos, como a saúde e a educação, e de outras empresas importantes.

Para agradar aos poderosos, Zelensky afasta-se dos povos. E os poderosos virar-lhe-ão as costas a qualquer momento, se acharem que é altura de chegar a um entendimento com Putin ou se algum outro conflito – como o genocídio de Israel contra o heroico povo da Palestina – for mais do seu interesse.

Defendemos os trabalhadores e os povos contra a opressão e as agressões militares das grandes potências, venham elas de onde vierem, e contra todo o imperialismo, seja dos EUA e da NATO, seja da Rússia ou da China. Estamos com os povos oprimidos contra os opressores. Estamos com os povos que se levantam contra os regimes reacionários. É por isso que estamos com a Palestina, com os povos e as mulheres do Irão contra o regime teocrático e repressivo. É por isso que hoje estamos com o povo ucraniano que se recusa a permanecer sob as botas do imperialismo russo.

A partir da Unidade Internacional dos Trabalhadores – Quarta Internacional (UIT-QI), trabalhámos com a esquerda anti-autoritária ucraniana e fizemos vários comboios de ajuda aos sindicatos independentes dos metalúrgicos, dos mineiros, dos ferroviários e dos professores na linha da frente em Krivyi Rih, Dobropillya, Zaporijia, Korosten e Mikolaiv. 

Apelamos aos povos do mundo e aos combatentes anti-imperialistas e de esquerda para que continuem a solidarizar-se com a resistência militar do povo ucraniano, sem dar apoio político ao governo de Zelensky, dizendo Não à NATO e exigindo o desmantelamento do armamento nuclear da NATO e da Rússia.

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