Por Miguel Ángel Hernández, dirigente do Partido Socialismo e Liberdade (PSL), secção da UIT-QI na Venezuela, e da UIT-QI
Há duas semanas, a França tem sido palco de grandes protestos contra a nova austeridade que o governo de Emmanuel Macron pretende implementar. Milhares de pessoas saíram às ruas no dia 10 de setembro com o slogan “Bloquons tout” (‘Bloquear tudo’). Os protestos, que tiveram o seu epicentro em Paris, são contra o plano orçamental para 2026 apresentado pelo agora ex-primeiro-ministro François Bayrou, que prevê cortes de até 44 mil milhões de euros e a supressão de dois feriados.
Como consequência dos fortes protestos, o primeiro-ministro caiu no parlamento, sendo substituído por Sébastien Lecornu, que pretende manter o plano orçamental de Bayrou.
Na quinta-feira, dia 18, ocorreu uma greve geral com mobilizações nas principais cidades do país, convocada por todas as centrais sindicais (CFDT, CGT, FO, CFE-CGC, CFTC, UNSA, FSU e SUD). A CGT, o maior sindicato do país, informou que mais de 1 milhão de pessoas participaram nos protestos, por toda a França. A maior marcha ocorreu em Paris, onde cerca de 60 mil pessoas se mobilizaram. Partiu da emblemática Praça da Bastilha, símbolo da Revolução Francesa, e terminou na Praça da Nação.
Houve centenas de bloqueios em ruas e instituições educativas do país, semelhantes à ação de 10 de setembro, bem como confrontos com a polícia, especialmente em Paris, Lyon, Rennes, Marselha e Nantes. A greve foi amplamente seguida no setor educacional e também teve repercussão em locais turísticos da capital, como a Torre Eiffel, que fechou ao público, assim como o Museu do Louvre. Também foram paralisadas 18.000 das 20.000 farmácias da França.
Por outro lado, um grupo de trabalhadores e sindicalistas com foguetes e bandeiras da Palestina ocupou por 10 minutos a sede do Ministério da Economia, no bairro parisiense de Bercy, em protesto contra as medidas de austeridade económica adotadas pelo governo, que afetam fundamentalmente os trabalhadores, trabalhadoras e suas famílias.
Os sindicatos exigem a eliminação dos cortes, que incluem o cancelamento do seguro de desemprego forçado, o aumento dos medicamentos e a desvinculação das pensões da inflação. Além de pedir a supressão dos cortes propostos pela austeridade de Bayrou, os sindicatos exigem a revogação da impopular reforma das pensões de 2023, bem como mais orçamento para os serviços públicos e a eliminação de impostos.
A França atravessa uma grave crise económica, tal como a maioria dos países da União Europeia. O défice do ano passado atingiu 5,8% do PIB, quase o dobro do limite de 3% estabelecido pela União Europeia, enquanto a dívida nacional ascende a mais de 3,3 biliões de euros, aproximadamente 114% do PIB. Mas, como é habitual, os governos descarregam a crise sobre os trabalhadores e os setores populares, reduzindo os gastos sociais e os salários, tudo em benefício dos empresários e das finanças governamentais.
Para o próximo dia 26 de setembro, o principal sindicato dos agricultores (FNSEA) convocou uma nova mobilização contra o acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai).
Os protestos na França coincidem com as revoltas na Indonésia e no Nepal contra a austeridade que os governos aplicam aos seus povos, na tentativa de salvar os negócios dos empresários e das transnacionais, em meio à profunda crise económica e política que atravessa o capitalismo em sua fase decadente imperialista.
Desde a Unidade Internacional de Trabalhadoras e Trabalhadores da Quarta Internacional (UIT-QI), nos solidarizamos incondicionalmente com as mobilizações que estão a ocorrer na França contra a brutal austeridade que o governo Macron-Lecornu pretende descarregar sobre os ombros do povo trabalhador deste país.